- Duração: 75 minutos
- Recomendação: 16 anos
Conhecida por obras impregnadas de arrojo cênico, a Aquela Cia. de Teatro alcança plenamente neste drama a harmonia tão frágil entre comunicação com o público e desbravamento sem concessões. Pedro Kosovski assina o potente texto sobre um soldado da Guerra do Paraguai (papel de Matheus Macena) que, dispensado após um colapso nervoso, retorna ao Rio de 1870. Sua cidade natal, porém, está irreconhecível aos seus olhos, devido às obras de saneamento que dariam origem ao Canal do Mangue, no Centro. A alusão às reformas urbanísticas que tomaram o Rio nos últimos anos (e sua eventual gentrificação por consequência) é inequívoca, mas, felizmente, desprovida de qualquer ranço de didatismo ou panfletagem. Outras reflexões, no entanto, vêm à tona no texto, de tal maneira imbricado com a encenação — e nisso reside grande parte da força avassaladora da montagem — que é até difícil imaginar o conteúdo em outra forma. Na direção de Marco André Nunes, diálogos, palavra recitada, elementos de performance e trilha executada ao vivo (pelo diretor musical Felipe Storino, com Maurício Chiari e Kosovski) se cruzam de forma orgânica. A fascinante instalação cênica que abriga a trama (concebida por Nunes e iluminada com esmero por Renato Machado) sugere a crueza suja do mangue em uma caixa de areia e em uma gaiola de caranguejos. Completado por Eduardo Speroni, Alex Nader, Fellipe Marques e Carolina Virguez, o elenco exibe notável entrega e, para além de destaques individuais, uma extraordinária noção de conjunto.