- Duração: 70 minutos
- Recomendação: 14 anos
Em 2010, exatos 100 dias após ser diagnosticada com um tumor cerebral, a arquiteta Marpe Facó faleceu, deixando três filhos — entre eles o ator Álamo Facó. Acompanhada de perto por ele, essa dura jornada inspirou a criação de um monólogo absolutamente tocante. Como é de se esperar em um projeto tão pessoal, as digitais de Facó se espalham pela montagem: ele assina o texto, está em cena e divide a direção com Cesar Augusto. Tamanho grau de envolvimento poderia gerar um dramalhão lacrimoso, mas, felizmente, não é o que acontece aqui. Burilada com enorme zelo, a dramaturgia percorre caminhos instigantes, equilibrando-se com habilidade entre a exposição de episódios reais e sua eventual recriação com toques de ficção. A encenação reforça no palco essa fina harmonia entre o documental e o poético, evidenciada no flerte aberto com a performance e refletida em cada elemento da peça, da cenografia de Bia Junqueira à luz de Felipe Lourenço, passando por figurino e trilha sonora. O cuidadoso trabalho da direção favorece o encadeamento de cenas por vezes fragmentadas, impondo excelente ritmo à montagem. Em atuação meticulosa, mas nem um pouco fria, Facó ganha a plateia e faz de um espetáculo sobre a morte uma ode à vida.