O Formidável
Resenha por Miguel Barbieri Jr
A atriz Anne Wiazemsky, que morreu no dia 5 de outubro, aos 70 anos, escreveu uma autobiografia chamada Un An Après (Um Ano Depois), narrando seu casamento com o diretor Jean-Luc Godard. Do livro nasceu O Formidável, fabuloso trabalho do francês Michel Hazanavicius, diretor premiado com o Oscar por O Artista (2011). Recebido friamente no Festival de Cannes, o filme tem, entre seus trunfos, o mérito de não se prolongar na vida de Godard (hoje com 86 anos) e fazer apenas um recorte do biênio 1967-1968. O roteiro enfoca o período de crise do cineasta, que marcou a nouvelle vague com Acossado (1960) e O Desprezo (1963). Socialista, Godard lançou, em 1967, A Chinesa, criticado até pelos próprios chineses — a então novata Anne (papel de Stacy Martin) era a protagonista. A partir daí, recusou-se a fazer um cinema, digamos, convencional (no que, convenhamos, ainda persiste). Já em maio de 1968, um Godard cheio de ideias e ideais saiu às ruas para protestar com os estudantes. Hazanavicius traduz muito bem (ao menos à sua maneira) um Godard inquieto, revoltado, intelectual e até inconsistente. Para interpretar o mestre foi escolhido um galã: Louis Garrel, excepcional, dá conta do recado com um jeito meio atrapalhado, falastrão e de raríssimos sorrisos. É o corpo e a alma de um filme notável sobre os bastidores do cinema. Direção: Michel Hazanavicius (Le Redoutable, Itália/França, 2017, 107min). 12 anos.