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Adeus a Zé Celso Martinez Corrêa: 5 peças icônicas que passaram pelo Rio

Diretor morreu nesta quinta (6) aos 86 anos em decorrência de um incêndio; suas montagens desafiaram a ditadura e revolucionaram o teatro nacional

Por Redação VEJA RIO Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
6 jul 2023, 19h07
José Celso é um homem branco careca com as lateiras dos cabelos brancas e está com a boca aberta. Nesta foto ele está de camisa branca.
José Celso Martinez Corrêa: dramarturgo, fundador do Teatro Oficina, morreu aos 86 anos (Ivan Pacheco/Acervo Abril)
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O Rei da Vela

Depois de estrear em São Paulo no fim de 1967, a peça chegou ao Rio no início do ano seguinte, onde fez temporada no Teatro João Caetano, na época com 1600 lugares. Escrito em 1933 por Oswald de Andrade, o espetáculo é um marco do Modernismo brasileiro. Baseada na história francesa de Abelardo e Heloísa, do século XII, foi adaptada ao Brasil dos anos 1920/30: na montagem, um agiota, seu irmão e sua noiva exploram os endividados, aliam-se ao capital estrangeiro, flertam com o fascismo e vivem bizarras aventuras sexuais, em uma crítica à ditadura militar e ao imperialismo. A peça, que revolucionou o teatro nacional, foi censurada em 1968. Em 2018, uma nova montagem dirigida por Zé Celso foi apresentada na Cidade das Artes.

Roda Viva

Escrita por Chico Buarque, a peça fazia uma crítica à sociedade de consumo e a instituições tradicionais, como a família e a propriedade. Em uma abordagem influenciada por Bertold Brecht, o espetáculo envolvia o público na cena. Em um momento em que o elenco devorava um fígado de boi cru, o sangue respingava nos espectadores da primeira fila. Os atores se dirigiam diretamente à plateia, por vezes com insultos e provocações. A peça estreou em janeiro de 1968 no Teatro Princesa Isabel, no Rio, onde grupos conservadores destruíram o cenário e agrediram os artistas. Em julho, o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, foi invadido pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que destruiu poltronas e camarins e agrediu atores, entre eles, Marília Pêra, estava substituindo Marieta Severo na temporada paulista.

Ham-let

Em agosto de 1994, a Companhia de Teatro Oficina Uzyna Uzona trouxe para o Rio a peça de Shakeaspeare, na versão dirigida por José Celso. A temporada carioca contou com apenas oito apresentações, que duravam cinco horas e meia, incluindo três intervalos, de quinze minutos cada. Na estreia, o espetáculo terminou às 2h40 do dia seguinte, e quase totalmente às escuras, pois, lá pelas tantas, faltou luz — e isso foi incorporado à encenação. Christiane Torloni vivia a Rainha Gertrudes, Zé Celso era o pai-fantasma do personagem-título, Marcelo Drummond era Hamlet, Valney Costa interpretou Rei Cláudio e Pascoal da Conceição deu vida a Polônio. Na peça, uma das atrizes do elenco escolhia um homem da plateia, abria o zíper de sua calça e mexia no interior.

As Bacantes

Em julho de 1996, o espetáculo, apresentado no Armazém 1 da Praça Mauá, durante o festival Rio Cena Contemporânea, foi parar nos jornais depois que Caetano Veloso fez uma participação. Encenada como ópera de Carnaval, a peça de Eurípedes falava do nascimento, morte e renascimento de Dionísio, ou Baco, o deus do teatro, do vinho e das festas. A ideia é que os espectadores se integrassem ao bacanal, e alguns terminavam despidos pelos atores. Foi o que aconteceu com Caetano. Na cena, um cupido jogava a flecha para alguém do público, que, então, era escolhido para participar da peça. O artista foi puxado para o palco pelos atores, que encenavam sexo grupal. Uma atriz improvisou com ele uma cena em que o amamentava. Depois, tiraram sua roupa. No início um pouco constrangido, Caetano acabou relaxando e dançando, sendo aplaudido pela plateia de 850 pessoas. Ficou apenas cerca de 10 minutos em cena, mas foi o suficiente para uma grande repercussão. 

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Pra Dar um Fim no Juízo de Deus

No centenário de Antonin Artaud, em 1997, o Teatro Oficina realizou uma montagem da peça radiofônica do escritor e dramaturgo que propunha uma reconstrução da anatomia humana. Em cena, um ator defecava e apresentava o resultado para a plateia cheirar, outro se masturbava até atingir o clímax e um terceiro tirava seu sangue com uma seringa, espirrando-o sobre uma ferradura. O espetáculo chegou ao Rio no ano seguinte, no Centro de Arte Hélio Oiticica. Em 2015, ganhou nova montagem, com quatro atores que integraram o elenco original: Marcelo Drummond, Pascoal da Conceição, Camila Mota e o diretor.

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