Lilia Cabral: ‘Não fico sentada esperando grandes personagens’
Sucesso no horário das 6 como a vilã da novela Garota do Momento, a atriz lança seu novo filme, A Lista, uma divertida comédia ambientada em Copacabana

Basta ligar nos Canais Globo para conferir que Lilia Cabral está em todas. Aos 67 anos, a atriz, que tem quase cinco décadas de carreira, está atualmente em quatro novelas. Ela faz sucesso no ar e nos memes como a vilã Maristela, de Garota do Momento, no horário das 6. Rouba a cena como a beata reprimida Amorzinho, de Tieta (1989), no Vale a Pena Ver de Novo. Cria casos como a médica apaixonada e amargurada Sheila, de História de Amor (1995), na faixa da Edição Especial. E, no Canal Viva, emociona com as cenas da mãe e ex-modelo Tereza, de Viver a Vida (2010), que lhe rendeu uma de suas indicações ao Emmy. Além disso, no último dia 17, a atriz estreou seu novo filme, A Lista, adaptação da peça homônima do dramaturgo Gustavo Pinheiro, vista por mais de 70 000 pessoas nos teatros desde 2022, em que ela interpreta uma solitária moradora de Copacabana. Além de muita disposição, talento e veia empreendedora, que a faz se envolver de ponta a ponta com os projetos, Lilia tem outras características que contribuem para o sucesso de sua longeva carreira, como contou nesta entrevista a VEJA RIO. “Não fico sentada esperando grandes personagens”, diz ela, sem se esquivar de assuntos como a crise de audiência nas novelas, a escalação de atores pelo número de seguidores e os efeitos da passagem do tempo.
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Você está no ar em quatro novelas da Globo simultaneamente, um feito inédito. É o auge de sua carreira? Ah, eu ainda quero conquistar tanta coisa. Não sei se eu posso dizer que é o auge. Quando entrei na televisão, em 1984, eu queria fazer uma novela do Manoel Carlos. Levei dez anos para conseguir.
Foi seu ponto de virada na carreira? Com certeza. História de Amor (1995) revolucionou a minha vida. Eu tinha quase 40 anos.
A sua vilã Maristela, atualmente no horário das 6, se tornou bastante popular nas redes sociais. O meme é a medida do sucesso hoje? Antigamente a gente tinha a dimensão do sucesso através das ruas. Agora é pelas redes, porque existe de alguma maneira ali uma necessidade do público de mostrar que ele, de fato, está assistindo e apreciando. O sucesso nada mais é que a aprovação do nosso trabalho, e da mesma hora que o sucesso vem ele vai embora.
Qual foi seu personagem mais desafiador? Tudo é sempre um grande desafio. São eles que fazem com que a gente não se acomode. Você pode transformar um pequeno personagem em um grande personagem. Com a Amorzinho, de Tieta, foi isso que aconteceu.
Como contratada da Globo, como conduz a escolha de seus trabalhos? Eu sempre aceito os convites. Não fico sentada esperando grandes personagens. Poucas vezes errei. E, mesmo quando não dá tão certo, você sempre sai ganhando alguma coisa. Não se aprende só com o sucesso. Às vezes, o fracasso ajuda muito mais a entender o que você deve ou não fazer.
Qual a diferença da postura dos jovens atores hoje nos bastidores para quando você começou? É completamente diferente. Eu ficava sentadinha ouvindo as histórias maravilhosas daqueles grandes atores… Reginaldo Faria, Cláudio Corrêa e Castro, Armando Bógus. Nem passava pela nossa cabeça que a tecnologia ia mudar dessa forma e íamos ficar dependentes do celular. Eu mesma posto. Apesar de fazer parte dessa juventude de agora, atrapalha. Eu tiraria o celular do set. Mas eu tenho tido a sorte de ter ao meu lado jovens extremamente profissionais, responsáveis e talentosos.
“De todos os projetos que propus, 70% não deram certo”
O que acha da escalação de elenco pelo número de seguidores? Eu não vou levantar uma bandeira e dizer “eu sou contra” porque não vai adiantar. Só o tempo vai dar a resposta. Na verdade, ele já está dizendo se vale ou não.
O que pode estar influenciando a audiência das novelas, que vem passando por um momento difícil? Penso que a novela tem que vir com a palavra família junto. As pessoas sentavam juntas em família para assistir. E, na tela, viam várias famílias, a mais humilde, a mais rica, a completamente desestruturada. Garota do Momento, que está indo muito bem, tem essa estrutura.
Empreender também é importante para uma atriz? De todos os projetos que eu propus no audiovisual, 70% não deram certo, mas com os 30% que foram adiante eu sou muito feliz. Deu certo com a série e o filme Divã (2009 e 2011) e com os longas Maria do Caritó (2019) e A Lista (2025), pelo qual eu batalhei muito. Sempre tento fazer acontecer algo em que acredito e sempre com autores nacionais.
Qual foi o momento mais emocionante das filmagens de A Lista? Quando cheguei a Copacabana, no prédio da Dona Laurita, minha personagem. Eu frequento muito pouco Copacabana. Então, pude entender uma realidade que não faz parte da minha vida, porque não sou carioca, sou paulista.
O bairro é cenário tanto do filme A Lista quanto de Garota do Momento. Qual a diferença entre estas duas Copacabanas? A novela também se passa lá, mas só que de uma forma aristocrática. A Copacabana da Dona Laurita é muito mais simples, bem mais pé no chão.
Você tem 4 milhões de seguidores no Instagram. Como lida com as redes sociais? É bem espontâneo. Só uso mesmo para o trabalho e para instigar coisas boas para serem vistas. Não tenho necessidade de mostrar se eu estou feliz ou estou triste. Se assisto ao filme Ainda estou aqui, eu indico. Se vejo a peça do Othon Bastos, falo que não pode perder a atuação dele.
Aos 67 anos, sente que a passagem do tempo está sendo gentil com você? É mentira que a gente vai envelhecendo e vai ficando tudo melhor. A gente vai tendo mais dores, a pele precisa de mais cremes, o cabelo muda, muda tudo. É difícil entender que a velhice também pode ser bonita, mas eu prefiro entender.
Como? Se eu ficar pensando quanto é triste porque eu estou caminhando para o fim, não aproveito. Então, não deixo de viver os momentos bons.
Você nunca fez botox? Não, nunca. Morro de medo de agulha. Não tenho essa prédisposição de querer mudar. Meu corpo não é o mesmo, mas meu figurino me cai bem.
Como se cuida? Para o corpo, faço aula de ginástica em casa. Meu alongamento melhorou, minhas pernas estão torneadinhas, nunca tive problema no joelho, não tenho mais dor na lombar. E para o rosto, vou a dermatologista, me cuido com meus cremes, faço no máximo um laser.
Você teve síndrome do pânico? Tive quando minha mãe morreu, mas eu não tinha ideia do que era. A questão foi se agravando até que entrei num processo que tive labirintose, comecei a ser medicada. Os remédios eram mais fortes. Na pandemia, durante meses, eu ia dormir e não conseguia. Era uma angústia muito forte, inexplicável. Graças a Deus, o Gustavo Pinheiro encontrou a Giulia (Bertolli, atriz e sua filha) e fizemos a peça A Lista.
Ainda enfrenta este quadro? Venho melhorando a cada tempo. Minha terapeuta me ajuda bastante. É importante a gente falar na terapia e entender esse processo. No último ano eu tive uma vez, estava na televisão, senti taquicardia, identifiquei que estava com pânico e passou. Tenho vivido bons dias, não me dá tempo de pensar na ansiedade. Ansiedade nada mais é do que você imaginar as coisas mais absurdas que possam te acontecer. Então, por que não pensar que pode acontecer o melhor de forma natural, e não o pior?
Qual foi o colega mais generoso que teve? Cleyde Yáconis. Fazíamos uma peça em 1992 e ela ficava me olhando quando eu estava em cena. Perguntei o motivo e ela respondeu: “A gente aprende é com os jovens”.