Ao dar seu sobrenome ao pequeno armazém em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, que em 1960 originou aquela que por décadas foi a maior rede de supermercados do estado, alternando-se entre o segundo e o terceiro lugar no ranking das grandes do país, Arthur Sendas fez do Rio uma extensão de sua casa. Nasciam as Casas Sendas, uma marca que chegou a estar em 83 lojas, onde nunca faltaram água gelada e cafezinho grátis – algumas serviam mais de 20 quilos de café, moído na hora, diariamente. Almoçando com os funcionários, que passava a conhecer pelo nome; visitando as filiais com frequência; conversando com clientes e colhendo percepções, Seu Arthur, como era chamado, inovou o setor de serviços, tornando-se uma figura carismática e admirada.
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Torcedor fanático do Vasco e devoto ardoroso de São Judas Tadeu, este empresário que tinha a cara do Rio tanto quanto tentou imprimir aqui a sua cara acaba de ganhar uma biografia. Escrito pela jornalista Luciana Medeiros e com prefácio do ex-ministro da Fazenda e embaixador Marcílio Marques Moreira, “Arthur Sendas, uma história de pioneirismo e inovação” conta não apenas sua história, mas a da cidade, a do varejo e a da economia do Brasil, até sua trágica morte, em 2008: aos 73 anos, ele foi baleado na cabeça em seu apartamento, no Leblon, por um motorista da família. Herdada por Arthur Sendas Filho, a rede teve 50% de seu capital comprados pelo Grupo Pão de Açúcar em 2003. Sete anos depois, o grupo decidiu extinguir a marca até o fim de 2011. A maioria das lojas Sendas foi rebatizada de Extra. Algumas destas hoje estão se tornando filiais dos atacadistas Assaí.
Arthur Sendas fez grandes investimentos no Rio, e se dedicou especialmente a São João de Meriti, onde comprou imóveis e terras para construir lojas importantes, na contramão da tendência de alugar espaços. Na Baixada Fluminense, instalou a Sendolândia, o clube de lazer dos funcionários. E investiu no Shopping Grande Rio quando este tipo de centro comercial era privilégio da Barra da Tijuca e das classes A e B. Tinha o sonho de construir um condomínio na região, e contratou o arquiteto que fez Nova Ipanema e Novo Leblon para replicar o modelo, o que não chegou a sair do papel. “Isso acabou se revelando uma grande estratégia, porque esses locais foram transformados em galpões hoje alugados para gigantes do e-commerce, bem no meio da Via Dutra, com acesso direto à Linha Vermelha, ao aeroporto e ao porto. Um patrimônio imobiliário estratégico para o estado”, avalia Luciana, que reuniu mais de 50 depoimentos para o livro, a ser lançado nesta terça (12).
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Embora tenha estudado só até a 5ª série, Arthur Sendas via além dos números nos negócios. Líder da Associação Comercial do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Supermercados, o empresário foi pioneiro nas práticas de solidariedade e inclusão, tendo inventado, por exemplo, a figura dos “marrequinhos”, jovens aprendizes da periferia que tinham na Sendas a chance para seu primeiro emprego. Morou no Alto da Boa Vista e, quando um temporal isolou a área, chegou a contratar tratores e helicópteros para abrir caminho e levar feridos para os hospitais.
E ai de quem duvidasse que alguém vendia mais barato. Um exemplo estava nos estandes de discos e fitas cassete que havia nas Casas Sendas desde os anos 1960. Luciana conta que os LPs podiam ser comprados ali a preços até 30% mais baixos do que nas lojas especializadas, que muitas vezes preferiam comprá-los lá em vez de nas gravadoras, para ter mais lucro ao revender. “A Sendas era a maior compradora de discos do estado. Por isso era muito prestigiada pelos artistas, que iam dar show e fazer tarde de autógrafo na Sendolândia e nas inaugurações de filiais”, diz a autora, que dá como exemplo o caso dos Carpenters. Em 1981, a dupla de irmãos veio ao Rio para lançar seu último disco, Made in America. “Não havia shows previstos na agenda. Mas Karen e Richard, que venderam 14 milhões de cópias, acabaram se apresentando no Shopping Sendas, à beira da Via Dutra, num show surpresa em pleno estacionamento, para dezenas de passantes espantadíssimos”, conta a autora. Os dois cantaram sucessos usando playbacks instrumentais.
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“Seu Arthur se preocupava em valorizar a Baixada Fluminense o tempo todo”, enfatiza Luciana, sobre este empresário que se tornou símbolo de uma época do Rio.