Com que biquíni eu vou?
Marcas autorais dão cara nova à moda praia carioca, conhecida por lançar tendências para o mundo inteiro

Com a praia como quintal de casa, Deborah Secco é sempre vista desfilando nas areias da Barra da Tijuca. Acostumada a responder sobre a origem de seus biquínis, surpreendia os curiosos: por muito tempo, ela mandou confeccionar seus próprios modelos com uma costureira. “O mercado estava muito restrito a grandes marcas que tinham a mesma cara. Havia uma lacuna para uma moda mais alternativa e, principalmente, mais acessível”, conta. Foi assim que a atriz se tornou sócia da Is Bikini no fim do ano passado, já aprovada por colegas de trabalho como Carolina Dieckmann e Giovanna Antonelli. A grife se junta a uma nova geração que vem mudando a cara da moda praia carioca nos últimos anos. Modelagens com menos estampas e formatos mais diversos ganham lugar ao sol — e também à sombra, nos bares e rodas de sambas, levadas pelo trânsito natural dessa época do ano das areias para o asfalto. “O boom de marcas independentes trouxe um olhar mais gentil para a moda praia, que por muito tempo fez as mulheres se acharem inadequadas”, comenta Lucia Hsu, dona da Cosmo.

Quando a cantora Anitta viralizou em uma propaganda usando um macacão de tule da etiqueta com a estampa do calçadão de Copacabana, logo no início da sua fase Girl From Rio, em 2021, a empresária viu as vendas da linha praia despontarem junto. “Nosso objetivo é que qualquer corpo se sinta confiante nesses momentos de prazer que envolvem o uso do biquíni”, afirma Lucia, que confecciona também maiôs de malha biodegradável e com FPS 50. Atenta aos nomes em ascensão nesse mercado, a Riachuelo lançou uma collab com a Makai, criada pelas irmãs Caroline e Julia Mauro. Com inspiração no Havaí, elas se tornaram queridinhas do público mais jovem, conquistando celebridades como Anitta, Juliette, Sasha Meneghel e Maisa Silva. Os bons ventos se refletem nos números da marca: o faturamento no último ano foi de 8,5 milhões de reais e a loja física no Shopping Leblon, aberta em dezembro de 2023, vendeu 3 500 peças em apenas duas semanas. “Se antes as marcas tinham medo de ser nichadas, hoje há um entendimento de que, quanto mais específico você for para seu público, mais você se conecta e cria fidelidade”, acredita Carol, prestes a abrir outra unidade no BarraShopping.

As modelagens também já não se restringem mais aos biquínis de lacinho e cortininha, que antes dominavam as areias. O foco está em peças mais diferentonas e democráticas, de preferência de materiais tecnológicos e que priorizem o conforto. “Minha primeira coleção, com peças assimétricas e recortes vazados, esgotou em menos de duas semanas. É a prova de que existe uma demanda por uma moda praia mais diversa”, frisa Marcella Franklin, à frente da Haight, que tem na clientela as atrizes Paolla Oliveira e Taís Araujo. Antes proibida para quem buscava uma marquinha minimalista, agora (com a bem-vinda ajuda do filtro solar) a criatividade reina em biquínis versáteis e saídas de praia modernas, que podem ir de uma pool party até um jantar mais sofisticado. Mas esse mercado também tem suas especificidades. “No ano passado o nude estava bombando, só que essa é uma cor que não funciona para roupa de banho”, diz a estilista e esportista Karina Vela, que lançou a Iki Swim no fim de 2021. Segundo ela, as apostas para este ano são a cor vermelho-cereja e o clássico sutiã meia-taça, que vem ganhando novas bossas, como drapeados.

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Uma coisa é certa: se explodiu no verão do Rio, pode apostar que a chance é grande de qualquer modismo, principalmente das praias, ser exportado para o resto do mundo. A cidade é historicamente pioneira nesse quesito. O biquíni deu as caras no Brasil ainda no fim da década de 1940, tendo sua primeira aparição pública no Arpoador, em 1948, quando a modelo Miriam Etz usou um “maiô duas peças”. Desde então, despontaram por aqui da asa-delta ao fio-dental, passando pela calcinha coração e o biquíni de fita. Atualmente, peças em formato de estrela, de um ombro só ou vestidas sobrepostas vêm fazendo a cabeça de influenciadoras e enchendo as redes sociais. Em meio ao desfile nas areias, também saem de cena as estampas tropicais e as cores neon para dar lugar a conjuntos lisos e mais sóbrios. “Em um momento que tudo muda muito rápido, por causa da internet, não faz mais sentido lançamentos por estação. Nosso plano é ter novas coleções ao longo de todo o ano”, promete Deborah Secco sobre a Is Bikini. Com que biquíni eu vou? É só escolher.