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Sem blocos na rua, figurinos carnavalescos ditam moda nas festas de verão

Enquanto looks do dia a dia no pós-pandemia ganharam itens mais básicos, estética do brilho e da irreverência migrou para a noite, em altas produções

Por Renata Magalhães
Atualizado em 21 fev 2022, 17h57 - Publicado em 18 fev 2022, 06h00
Abre moda
Look carnavalesco: procura por peças como tops de pérolas, strass e espelhos, perucas cravejadas de miçangas, sungas de tecidos reluzentes e demais peças cheias de ousadia cresce.  (Santa Maria/Divulgação)
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Quem é veterano do Carnaval de rua sabe muito bem: parte da festa começa antes, com a criação das fantasias. Só que, mais uma vez, os blocos foram suspensos no Rio, na tentativa de frear a disseminação da nova variante da Covid-19. E não deu outra: os foliões encontraram seu jeito, tirando do armário as plumas e paetês esquecidos havia quase dois anos e passando a frequentar carnavalescamente festas de verão e outros eventos liberados pelas autoridades, obedecendo às normas da prevenção, como a apresentação do passaporte da vacina.

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“A estética do brilho e da irreverência migrou para a noite, com as pessoas saindo cada vez mais produzidas”, confirma Clarissa Romancini, criadora da marca Ohlograma, conhecida pelos looks irreverentes a partir da mistura de materiais garimpados desde a Saara até brechós, feiras de artesanato e lojas de e-commerce. No ateliê localizado no Leblon, a procura por peças como tops de pérolas, strass e espelhos, perucas cravejadas de miçangas, sungas de tecidos reluzentes e demais peças cheias de ousadia cresceu tanto que, só nos últimos três meses de 2021, a estilista vendeu seis vezes o registrado no mesmo período de 2019.

A estilista Clarissa Romancini, da Ohlograma: procura em alta no ateliê do Leblon
A estilista Clarissa Romancini, da Ohlograma: procura em alta no ateliê do Leblon (Leo Lemos/Divulgação)

Enquanto a moda do dia a dia no pós-pandemia trouxe itens mais básicos e versáteis, no que diz respeito às festas a lógica é inversamente proporcional. Adereços que deixam o corpo à mostra, peças metalizadas e muita transparência estão em confecção nos ateliês de acessórios e fantasias, que voltaram a funcionar a pleno vapor, impulsionados pelas festinhas da temporada. À frente da Santa Maria desde 2016, a estilista Stephanie Sartori já vestiu a modelo Alessandra Ambrosio, a atriz Bruna Marquezine e a artista plástica Adriana Varejão em outros Carnavais. Com a eclosão do novo coronavírus, ela precisou repensar o modelo de negócios e passou a investir em criações que pudessem ser usadas em qualquer tipo de evento, do bloco às noitadas. “Depois de quase dois anos convivendo com a pandemia, as pessoas querem trazer mais alegria para qualquer ocasião, e isso se reflete na forma de se vestir”, afirma. “Neste verão, estou apostando em muito brilho e em elementos divertidos, como as franjas”, completa Stephanie, refletindo o desejo por roupas glamourosas após um longo período de moletons e chinelos. A próxima coleção sai neste mês com tops, bodies e outras peças que exploram os novos ares.

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A pandemia fez com que muitos negócios do ramo passassem por um sacolejo e se reinventassem para resistir aos novos tempos. Aconteceu com Ana De’Carli, dona da Odara Odessi, que produz famosos acessórios de cabeça — as cantoras Anitta, Iza e Ludmilla são algumas das personalidades que já desfilaram com seus adereços por aí. A artesã fechou o ateliê em Laranjeiras e começou a trabalhar com peças sob encomenda, que seguem a irreverência carnavalesca, mas são usadas agora até em casamentos, aniversários e festas temáticas, do Halloween ao réveillon. “Minha proposta é aproveitar o enorme acervo que construí ao longo desses anos e oferecer adereços exclusivos”, diz Ana. Com experiência em escolas de samba como a Vila Isabel, onde fez figurinos e carros alegóricos, Clara Andrade aposta agora no reaproveitamento de materiais na próxima coleção da Libertina, que terá uma pegada mais artesanal, outro mantra da era pós-Covid. “Neste momento o que está fazendo a diferença é a criatividade”, reforça a estilista mineira, cujo ateliê fica na Fábrica da Bhering, na Zona Portuária. Em produção estão bustiês de pedrarias, arcos de cabeça e perucas divertidíssimas, que oscilam entre 200 e 800 reais.

arte moda

Esta temporada marca ainda a volta de modismos de estações passadas (veja o quadro). Em mais um movimento cíclico da moda, que vive um eterno vaivém, o crochê reapareceu na esteira da valorização dos trabalhos artesanais nos últimos dois anos. Chanel, Prada, Valentino e outras grandes grifes internacionais desfilaram acessórios com a trama rústica nas últimas semanas de moda na Itália e na França. Não demorou muito para que o ícone dos anos 1970 invadisse novamente as vitrines cariocas em biquínis, croppeds, shorts, saias, vestidos e acessórios de todos os tipos, e rapidamente caísse no gosto das famosas. Bruna Marquezine, Isis Valverde, Camila Queiroz, Deborah Secco e Flávia Alessandra, por exemplo, estão entre as adeptas dos modelitos retrô que chegam agora com roupagem mais contemporânea, estampas diferenciadas e tons vibrantes — o neon, aliás, veio com tudo junto com o crochê para colorir o verão deste ano. Mesmo que 2022 ainda imponha seus desafios, quem sabe essa aura mais radiante não acabe ficando fora do armário o ano inteiro.

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