No fim de 2019, Ana Beatriz Nogueira foi acometida por um “siricotico artístico”, como ela define. Estava prestes a completar 35 anos de carreira e decidiu pôr de pé dois espetáculos simultaneamente. Só que as cortinas se fecharam por causa da pandemia e aquela inquietação extravasou pelas redes sociais, onde Ana começou a ler poesias e trechos de textos teatrais.
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Desse aperitivo, surgiu a ideia de voltar ao palco em modo adaptado, com o público assistindo às montagens de casa. Ao longo de um mês, Ana Beatriz ficou pendurada no telefone, convencendo colegas a se arriscar no até então misterioso mundo do teatro on-line.
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Paulo Betti, Lilia Cabral, Maitê Proença e Marcelo Serrado foram alguns dos que toparam aderir à modalidade, que atraiu com diferentes peças 40 000 espectadores de julho a novembro, tudo transmitido via Zoom, em tempo real, direto de um teatro no Leblon. “Proporcionar a um artista a possibilidade de estar no palco, de forma segura, no meio de uma pandemia, renovou o meu entusiasmo”, orgulha-se ela, que ajudou a sacudir toda uma cadeia produtiva que andava parada.
O sucesso foi tamanho que, após o projeto Teatro Já, Ana investiu em equipamentos de gravação devidamente instalados na sala de sua casa, aprendeu a operar as câmeras e trouxe à cena outra ideia, o Teatro Sem Bolso, com peças e shows mais simples, feitos lá mesmo.
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“Precisei negociar com o carro do ovo, que passa na minha rua bem na hora dos espetáculos, para fazer silêncio”, conta com humor a versátil atriz, dona de um currículo com filmes premiados e 25 novelas. Aos 53 anos, inquieta que só, ela anda envolvida em mais uma trama global, Um Lugar ao Sol, que vai substituir Amor de Mãe no ano que vem. Não vê a hora de reencontrar o público na plateia do teatro mais próximo. “Eu tenho esse bicho-carpinteiro, uma necessidade extrema de exercer meu ofício, e durante a pandemia pudemos ver como a dramaturgia fez companhia para muita gente.” A arte salva e Ana Beatriz Nogueira sabe disso.