Viver é uma selvageria. A frase seca e afiada é dita por Cláudia Abreu bem no início do monólogo Virginia, o primeiro de uma exitosa carreira de 37 anos de serviços prestados à arte. Foi em plena pandemia que a atriz resolveu escrever para teatro, imaginando como teriam sido os minutos finais da vida da britânica Virginia Woolf (1882-1941). Incluiu no roteiro temas caros à escritora, como opressão, abuso, saúde mental e feminismo.
Enquanto criava a história, ia lendo, via Zoom, para o diretor Amir Haddad. “Eu tinha receio de subir ao palco sozinha. Imaginava que seria chato não ter ninguém para trocar em cena, mas a dramaturgia acabou exigindo esse trabalho solitário. Foi um risco alto, mas me impus o desafio”, conta ela, que bancou a produção do próprio bolso e, ao longo de 2023, lotou plateias no Rio, em São Paulo, no Sul e no Nordeste.
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Ao encerrar o contrato de quase quatro décadas com a TV Globo, aproveita agora a liberdade de finalmente escolher e criar o que vai fazer. Esse processo fica claro em Virginia, que ela pretende apresentar no próximo ano em palcos populares, como a Biblioteca Parque, no Centro. Também estão previstas temporadas na região Norte e em Minas Gerais. Poderá ser vista ainda na série Sutura, da Amazon Prime, e ouvida numa produção ficcional em áudio para o streaming.
Ela não esconde, porém, que é no palco que seu coração bate mais acelerado. “Nada se compara à troca de energia entre atriz e plateia”, emociona-se. “A classe artística foi muito maltratada nos últimos tempos, e sei que a nossa cidade tem um lado sombrio, mas me orgulho de representar a arte, que é justamente a face solar do Rio”, arremata Cláudia, que, aos 53 anos, não perde hábitos bem cariocas que cultiva desde a juventude, como caminhar pelas Paineiras, tomar sol nas areias do Leblon e bebericar um chope no Jobi.
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