Carioca lidera projeto para preservação de espécies da Baía de Guanabara
O advogado e remador Caetano Altafin criou o Instituto TartarUrca e a escola Mana Imua Va’a, que recolhem o lixo do mar e socorrem tartarugas da região
Depois de perder o melhor amigo de infância para um tipo raro e agressivo de câncer nos ossos, o advogado carioca Caetano Altafin embarcou (literalmente) em uma jornada de superação e solidariedade. Em 2015, junto com remadores de outras nacionalidades, cruzou 6 000 quilômetros da África ao Caribe a fim de arrecadar doações para uma pesquisa sobre a doença. Acertou quem se lembrou da história de Amyr Klink, que em 1984 fez a primeira travessia no Atlântico Sul em um barco — três décadas depois, Caetano se tornou o primeiro brasileiro a cruzar a remo o Atlântico Norte.
De volta ao Rio, descobriu a canoa polinésia e saiu em busca de outro propósito para unir ao esporte, praticado na Baía de Guanabara. Enquanto ficava encantado com as belezas do cenário, observava também o desastre ambiental: diariamente, as águas da baía recebem 98 toneladas de lixo, segundo levantamento recente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
“O que mais me impressiona é perceber como a fauna e a flora lutam para sobreviver, mesmo com tão pouco cuidado”, afirma Caetano, que já encontrou desde eletrodomésticos até uma infindável quantidade de material plástico ali.
“O que mais me impressiona é perceber como a fauna e a flora lutam para sobreviver, mesmo com tão pouco cuidado”
Foi assim que um hábito comum entre remadores — recolher os dejetos superficiais — desaguou na criação do Instituto TartarUrca e na escola Mana Imua Va’a, em janeiro deste ano. O projeto, hoje estabelecido na Enseada de Botafogo, é baseado em três vertentes: recolhimento e conscientização sobre o lixo, restituição de espécies nativas com o replantio da vegetação de restinga e socorro às tartarugas que “remam” com os esportistas e são castigadas pela poluição.
Em um episódio triste, no domingo do último Carnaval, eles acharam uma delas já morta. “Foi o momento em que fiquei mais sensibilizado durante esse trabalho”, lembra. Em outros, conseguiram chegar a tempo para resgatar os bichinhos debilitados e levá-los até ONGs veterinárias parceiras. O instituto ainda oferece aulas de canoagem a pessoas de todas as idades e qualquer nível de experiência — que naturalmente se tornam animadas voluntárias.
“Essa é uma contrapartida mínima pela oportunidade que o mar nos traz, e para garantir que as próximas gerações tenham as mesmas chances de desfrutar esse privilégio”, conclui Caetano, que acaba de virar pai de uma menina, cujo nome é uma homenagem a sua grande paixão: Lis Oceane.