Todo mundo vai ter uma história para contar da pandemia de 2020. A de Sue Ann Clemens, 52 anos, envolve salvar vidas. Carioca radicada na Europa, a prestigiada médica, especialista em vacina e consultora da Fundação Bill & Melinda Gates, programou no início do ano uma de suas habituais visitas ao Rio de Janeiro. Aí veio a pandemia, e ela acabou presa na terra natal. Com humor britânico, o cientista Andrew Pollard considerou o transtorno “um lance de sorte”. Ele é coordenador do desenvolvimento de pesquisas da vacina contra a Covid-19 na Universidade de Oxford e convidou a colega a conduzir no Brasil parte dos estudos clínicos para a criação do imunizante.
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Quarenta dias mais tarde, em maio, começou a funcionar, em São Paulo, o primeiro de três centros de triagem e testes da vacina, produzida em parceria com a farmacêutica AstraZeneca. Destaque negativo pelo número de vítimas, o Brasil também ganhou visibilidade no mapa dos esforços contra o fatídico vírus: a derradeira fase do estudo de Oxford ultrapassou 5 000 voluntários. Em setembro, Pollard sugeriu dobrar a aposta. Diante de dificuldades no curso da pesquisa em outros países, era preciso alistar mais gente em solo brasileiro. Com as novas unidades criadas, logo já eram seis os centros e 10 400 voluntários.
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Por não precisar ser preservada a temperaturas muito baixas, a vacina de Oxford, uma vez registrada, poderá ser distribuída com facilidade, e um convênio com a Fiocruz permitirá sua fabricação no Brasil. “Esse processo vai deixar um legado de transferência de tecnologia, de conscientização e de acesso rápido à vacina”, diz a médica. Para ela, a correria não para. Por vídeo, Sue Ann deu a aula inaugural do mestrado em vacinologia que criou na Universidade de Siena, na Itália, onde fica baseada. Ela e o marido, o pesquisador alemão Ralf Clemens, mal tiveram tempo de comemorar a liberação, pela OMS, da primeira licença de vacina para uso emergencial da história da instituição, uma fórmula contra a pólio, parte dos esforços patrocinados pela Fundação Gates para erradicar a doença no planeta. “Trabalhamos no ritmo Covid”, ela resume.
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