Nos corredores de uma loja de cosméticos, Fatou Ndiaye, 15 anos, viu-se em uma incômoda situação com a qual é obrigada a conviver desde pequena e jamais, em tempo algum, irá se acostumar: vendedoras a seguiam enquanto ela procurava uma maquiagem — e aí a ironia — focada na diversidade de tipos e tonalidades de pele. “Percebo sempre aquele olhar de ‘o que é que você está fazendo aqui?’, uma desconfiança e um descaso por eu ser negra”, diz a estudante, que em maio foi vítima de um caso de racismo no Liceu Franco-Brasileiro, colégio da Zona Sul onde estudava havia dez anos.
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O episódio veio aos holofotes quando um amigo lhe mostrou mensagens preconceituosas que circulavam em um grupo de WhatsApp. Fatou era a personagem central de comentários criminosos por parte de seus colegas de classe. O caso repercutiu e atraiu a solidariedade de figuras públicas como a cantora Iza, a jornalista Maju Coutinho e a atriz Taís Araujo. Poderia ter sido encarada pela adolescente como mais uma entre tantas passagens do gênero em sua trajetória, mas caiu como uma espécie de gota d’água e se converteu em combustível para que ela ampliasse o debate antirracista por meio de ferramentas digitais. Em sua página do Instagram, com posts e lives, Fatou promove verdadeiras aulas sobre a cultura africana e análises do contexto político e social de países como a Nigéria e o Senegal.
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Ela também costuma conversar com lideranças negras cheias de histórias, como a psicóloga Cíntia Aleixo, a filósofa Katiúscia Ribeiro e a agora amiga Taís Araujo — tudo numa linguagem simples e direta, acompanhada por seus quase 100 000 seguidores, a maioria de jovens da idade dela, que se veem representados. “Rola muita identificação, criei vínculos, me contam que passaram por situações parecidas. Na verdade, eu desconheço uma pessoa negra que nunca tenha sofrido racismo.” É essa lógica perversa que a estudante se empenha para mudar.