“Um carioca é um carioca. Ele não pode ser nem um pernambucano, nem um mineiro, nem um paulista, nem um baiano, nem um amazonense, nem um gaúcho. Enquanto que, inversamente, qualquer uma dessas cidadanias, sem diminuição de capacidade, pode transformar-se também em carioca; pois a verdade é que ser carioca é antes de mais nada um estado de espírito.” O ano era 1960, e a capital federal havia acabado de ser transferida do Rio para Brasília quando Vinicius de Moraes recebeu a ligação de um repórter que o questionou sobre a mudança. Da pergunta, o poetinha tomou inspiração para escrever a crônica Estado da Guanabara, retrato certeiro e bem-humorado da gente da nossa cidade.
Esse estado de espírito ao qual ele se referia é um dos pilares do prêmio Cariocas do Ano, que chega em 2023 destacando a história de quinze personalidades que fazem e acontecem. Uma turma que, nascida aqui ou abraçada pelo Rio, se superou, serviu de exemplo e agitou bandeiras que mudam vidas. No rol, estão Ney Matogrosso, que esbanjou vitalidade nos palcos aos 82 anos, a apresentadora Xuxa, que quebrou recordes no streaming com um revelador documentário, e Cláudia Abreu, sucesso nos teatros com seu primeiro monólogo, idealizado e escrito por ela.
A 17ª edição do prêmio traz ainda uma categoria inédita, o Carioquinha do Ano, concedido ao pequeno vascaíno Guilherme Gandra Moura, o menino de 9 anos que tocou a emoção de muita gente ao mostrar como convive com a epidermólise bolhosa, doença genética rara e sem cura. Ao acordar de um coma de dezessete dias, ele sensibilizou o país e motivou a criação de uma lei estadual que garante assistência a outras vítimas. É com o maior orgulho que apresentamos nas páginas a seguir os nossos nobres laureados.
Fernanda Thedim
editora-chefe