Coronavírus: ‘Isolamento social não tem cabimento’, diz deputado Luiz Lima
Eleito com apoio da família Bolsonaro, ex-nadador defendia em março as medidas restritivas tomadas pelo governador Wilson Witzel; 'Mudei de ideia', diz
Mais de 260 mil pessoas já visualizaram o vídeo postado nesta terça-feira (21) pelo deputado federal Luiz Lima. Nele, o ex-nadador conta a sua versão para a detenção da mulher, Milene Comini, na Praia de Copacabana – ela nadava com a filha do casal, que é atleta do Fluminense, e foi conduzida à delegacia do bairro por desrespeito ao decreto do governo do estado que proíbe a população de ir à praia e a áreas públicas de passeio. Eleito com mais de 115 mil votos e o apoio da família Bolsonaro, Luiz Lima conversou com VEJA RIO.
No vídeo, você chama o governador Wilson Witzel de “escroto, destemperado, desequilibrado e corrupto”. Hoje, de cabeça mais fria, arrepende-se do tom usado para criticá-lo? Não me arrependo nem um pouco do que disse. Nem da forma nem do conteúdo. Falei com o coração. Na verdade, eu me segurei para não falar mais, me controlei. Estava emocionado e indignado. É um exagero o que está acontecendo no país. Estão fazendo uso político do que estamos vivendo.
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Por mais que não concorde com o decreto, não avalia que, como político, deveria respeitá-lo, até para dar o exemplo? Não, porque eu acho um contrassenso isso tudo. As pessoas estão andando no calçadão, você anda pela cidade e vê um monte de morador de rua… Minha filha é atleta da seleção brasileira de natação e estava treinando no mar, como muitos atletas estão fazendo pelo país: treinando em mares e lagoas. O mar não está sob responsabilidade da prefeitura ou do governo. Ele é da União. E não há no decreto nada escrito sobre a proibição de nadar no mar. Fala em praia, mas em mar, não. Ninguém pode impedir.
Você é contra o isolamento social e as medidas restritivas de circulação? Sou totalmente contra. Totalmente. Eu sei fazer conta, sei calcular. As consequências desta paralisação vão ser muito mais sérias do que a Covid em si, parar o país acaba sacrificando 99.9% da população.
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No final de março você defendia o isolamento e chegou a postar em seu Instagram uma foto da Praia de Copacabana vazia. Na legenda, agradeceu e parabenizou a sociedade por ficar em casa. Não foi o único post em que defendeu as restrições de circulação. O que te fez mudar tão radicalmente de ideia em tão pouco tempo? A projeção era que a doença seria bem mais letal aqui no Brasil, era uma outra perspectiva. Mudei de ideia quando comecei a perceber que o desemprego e a quebra da economia gerariam muito mais complicações a longo prazo do que os números de mortes do Covid. Os números não justificam os gastos, as pessoas estão morrendo de fome e sem poder trabalhar. Não tem cabimento isso que está acontecendo no estado do Rio, e em outros estados também.
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Você acha que não tem cabimento as medidas tomadas no estado, em outros estados, no mundo inteiro, e defendida com veemência por cientistas, médicos, e pela OMS? Acho. Não tem cabimento porque estão ouvindo só um lado da ciência. Tem muitos cientistas e médicos que falam que o isolamento horizontal não serve para nada, vide a Itália e a Espanha, que fecharam totalmente e tiveram um número enorme de mortes. As pessoas estão passando fome. Tivemos 2 mil mortes no Brasil até agora (no levantamento de terça-feira, o número chegava a 2.741), se a gente dividir pelos mais de 5000 municípios do país, não dá uma morte por município. Não podemos sacrificar 99,9% da população por causa do Covid. Isso tudo mexe muito com o meu emocional.