O menino que sonhava ser jogador de futebol e se tornou um dos maiores sambistas de sua geração guarda do ponto de vista da plateia, e não do palco, uma das memórias mais marcantes do pai, João Nogueira, que completaria 80 anos em 2021. Aos 6 anos, Diogo Nogueira viu pela primeira vez o cantor e compositor se apresentando no Teatro João Caetano. “Nunca esqueci desse dia. Era pequeno, mas lembro até hoje dele cantando Espelho, que compôs para o meu avô”, diz Diogo, às vésperas de retomar uma intensa agenda de shows.
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No dia 23 ele pisará novamente no palco do Circo Voador, onde começou sua carreira, e em janeiro traz de volta o Clube do Samba, fundado por seu pai, para a varanda do Vivo Rio. Se tudo correr como planejado, o portelense de 40 anos calcula que fará cinquenta apresentações até o Carnaval. O repertório, é claro, contém sua mais nova música, Flor de Caña, em homenagem à namorada, Paolla Oliveira. “Todo mundo quer casar a gente, já publicaram até que ela estava grávida”, diverte-se, sem pôr lenha na fogueira das especulações. Cozinheiro de mão cheia, surfista nas horas vagas e à frente de um filme, um livro e um musical sobre o pai para o próximo ano, Diogo falou de peito aberto a VEJA RIO.
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Como é voltar aos palcos após quase dois anos de pandemia? Está sendo muito bom poder cantar junto do público de novo. É nítido como as pessoas estavam sentindo falta dessa liberdade, de ver os artistas que elas admiram de perto.
Em janeiro você retoma o Clube do Samba, projeto fundado por seu pai, que estaria completando 80 anos agora. Como foi lidar com a morte dele tão cedo? Foi bem difícil. Eu tinha 19 anos e estava naquele momento de transição entre a adolescência e a fase adulta. As orientações dele fizeram falta, mas a gente acaba aprendendo com a vida, errando e acertando, e entende que a morte faz parte.
Qual a primeira memória do seu pai que lhe vem à mente? A primeira vez que eu o vi no palco foi muito marcante. Tinha 6 anos e lembro direitinho dele cantando Espelho, que fez para o meu avô, no Teatro João Caetano.
Em que momento decidiu seguir a carreira dele? Comecei a cantar com 24 anos, depois que tive uma lesão no joelho e abandonei o futebol profissional. Foi aí que entendi que existia uma história que deveria ser continuada na música.
Seu pai era definido como um sambista ortodoxo e praticante, que não admitia interferências sonoras ou estrangeirismos. Segue a mesma linha? Eu me vejo como um artista que gosta da música brasileira em geral. E acho que, por mais que tenha nascido no mundo do samba, preciso estar sempre aberto a outros ritmos que compõem a nossa cultura, a nossa história e a nossa herança.
Acha que fora do Brasil o samba ainda é visto como ritmo do segundo time em comparação, por exemplo, à bossa nova? Na verdade, não. Quando se fala da música brasileira lá fora, as pessoas falam é de samba. Se for para fazer uma análise, a bossa nova é tocada como samba, mudam só os acordes, mais elaborados, entram piano, violão. Ela, inclusive, foi retirada da matriz do samba, com a diferença de que foi levada para os apartamentos da Zona Sul. Quando fiz uma turnê com o Hamilton de Holanda na Europa, fomos ovacionados. Tivemos que voltar para o bis seis vezes.
Você já emplacou quatro sambas-enredos na Portela e concorreu mais uma vez para o Carnaval de 2022, mas ainda pesam muitas incertezas sobre a festa. Como isso afeta o mundo do samba? Muitas pessoas passam o ano inteiro trabalhando para fazer a escola acontecer. A dificuldade que elas passaram, com a pandemia e o cancelamento do último desfile, foi grande. Atingiu todo mundo, uma cadeia enorme de pessoas. O Rio é um daqueles lugares onde o Carnaval é uma potência turística e financeira. Ficar sem ele atinge a cidade toda.
“Por mais que eu tenha nascido no mundo do samba, preciso estar aberto a outros ritmos”
Durante a pandemia você lançou um livro de receitas. Cozinhar é terapia? Sim, um prazer. Você abre um vinho, bate um papo, dá risada. Eu adoro passar os fins de semana na cozinha. Então, reuni algumas receitas e passei quatro dias na beira do fogão fazendo o livro e mandando quentinha para os amigos.
De onde vem o gosto pela gastronomia? As festas lá em casa começavam na cozinha. Às 9 horas da manhã, minha mãe (Angela) e meu pai já davam início aos trabalhos. A gente ficava ali ajudando, cortando tomate, vendo tudo. Foi assim que aprendi as receitas que meus pais preparavam.
Você gosta de alta gastronomia ou troca um restaurante três estrelas pelo macarrão com salsicha que sua avó fazia na infância? Eu gosto dos dois. Aprecio o trabalho dos chefs, mas também não dispenso um bom macarrão com salsicha picadinha.
Vários sambistas, como Alcione e Zeca Pagodinho, estão à frente de negócios nesse setor. Tem vontade de abrir um bar ou restaurante? Nunca me fizeram essa proposta, mas, se pintar uma oportunidade bacana, acho que toparia, sim.
Você mesmo se encarrega das postagens em sua conta no Instagram sobre surfe? Sim. Esse é um lado meu que pouca gente conhece. O surfe vem da infância. Eu comecei a pegar onda com 6 anos, já fiz várias viagens para deslizar nas ondas e gravo tudo. Quero fazer um documentário com essas imagens, mas são tantos projetos que, às vezes, não dá tempo de tudo.
Como anda o tão comentado namoro com a Paolla Oliveira? Está sendo maravilhoso viver esse amor. A vida está tão leve com ela, tão bacana, tão gostosa que acho que está explícito para todo mundo. Não tem pose.
Passou a gostar mais de novela? Pior que eu já gostava. Agora também estou me interessando muito em ver como os atores constroem a personagem. Ela está em um trabalho novo e eu acompanho esse processo. A gente assiste a filmes juntos, ela me pede conselhos, a gente troca o tempo todo.
A pergunta que todo mundo deve fazer: vai ter casamento? As coisas estão acontecendo da forma que devem ser, naturalmente. Mas há muito para acontecer ainda.
Isso é um sim? Quem sabe? Estamos felizes.
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