Alvo de críticas indignadas nas redes sociais nesta quarta (9), após anunciar uma ação de marketing envolvendo o nome de Kathlen Romeu, a Farm recapitulou horas depois e pediu desculpas. Baleada durante um tiroteio na comunidade do Lins de Vasconcelos, Kathlen era vendedora da grife e estava grávida. Enquanto a notícia de sua morte ainda repercutia no noticiário, a marca usou seu perfil oficial no Instagram para anunciar que havia criado um cupom de desconto no nome da funcionária.
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De acordo com a Farm, o objetivo da macabra estratégia de marketing seria ajudar financeiramente a família da vendedora – mas sem abrir mão do lucro. “A partir de hoje, toda a venda feita no código de Kathlen terá sua comissão revertida em apoio para a sua família”, dizia um trecho da mensagem. O fato de apenas uma pequena porcentagem da venda ser revertida aos parentes da funcionária (por ser comissão, a empresa não deixaria de faturar nem um centavo) causou indignação e incômodo na web.
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Acusada de oportunista, a Farm foi atacada no Instagram também por ex-vendedoras. “Eu entrei para a Farm em 2016. Na época a empresa tinha acabado de se envolver em uma grande confusão por causa de racismo. Depois desse episódio, eles abriram um quadro para funcionárias negras e eu acabei passando. Eles não tinham nenhuma estrutura para receber funcionários racializados, só estavam querendo incluir gente preta para poder calar a boca do que estava acontecendo na época”, contou a ex-funcionária Janice Mascarenhas, que é negra.
Janice contou detalhes de ataques racistas sofridos por ela dentro da própria empresa. Outra vendedora, também negra e identificada no Twitter como Alanne, conta ter trabalhado por cinco meses na Farm. “Foi o tempo que aguentei”, escreveu ela, lembrando que uma das regras para as funcionárias é que elas são obrigadas a comprar o próprio uniforme – “Só a sandália custava 500 reais”.
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Mais de 17 000 comentários (98% deles em tom indignado e críticos à postura da empresa) foram postados no Instagram, o que levou a Farm a se retratar e publicar um post, sem foto, em fundo preto, onde se lê: ERRAMOS. Nele, a marca se desculpa pela ação e diz que entendeu a gravidade do que fez. “Por isso, retiramos o código E957 do ar. Continuaremos dando o apoio e suporte à família, como fizemos desde o primeiro momento em que recebemos a notícia”.
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Em nota enviada a VEJA RIO, a assessoria de imprensa da marca informa que vai reverter integralmente as vendas que foram geradas através do código para a família de Kathlen. “Olhamos hoje pra Farm com a consciência da nossa função social na redução das desigualdades e seguiremos acelerando todos os nossos programas de inclusão e equidade. Agora o momento é de luto e acolhimento”
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