Favela Orgânica: projeto que combate desperdício na cozinha chega à escola
Ação premiada da chef Regina Tchelly, que ensina o aproveitamento integral de alimentos a moradores de comunidade, ganha piloto em colégio de Botafogo
Lá se vão doze anos desde que Regina Tchelly, com apenas 140 reais no bolso angariados junto a vizinhos do Morro da Babilônia, ministrou em sua casa uma oficina sobre aproveitamento de alimentos. Foi a semente do que viria a se tornar o Favela Orgânica, projeto com o qual a cozinheira rodou o mundo mostrando suas receitas, lançou livro, apresentou um programa de TV no Canal Futura e ganhou prêmios diversos (inclusive internacionais). E a iniciativa segue dando frutos.
Um deles é o Nutrindo Favela Orgânica: na sede da ONG, em uma área repleta de temperos e hortaliças na mesma comunidade da Zona Sul, Regina recebe os moradores para aulas sobre o ciclo e as propriedades nutricionais dos alimentos, bem como o uso de plantas alimentícias não convencionais, conhecidas como pancs e encontradas ali pelas redondezas. “Mostramos como essas pessoas podem fazer diferente, seja na própria cozinha, no dia a dia das suas famílias, seja para gerar uma renda extra”, diz, ressaltando que este foi um pedido dos vizinhos depois da pandemia, que fez elevar por lá a curva do desemprego.
“Nós ensinamos as pessoas a não passar fome, multiplicando a comida, e isso é uma tarefa sem fim no nosso país”
Além da mestre-cuca, o corpo docente é formado por uma psicóloga e mais quatro nutricionistas, que trabalham em parceria com a ONG e recebem quarenta participantes por semana. “Ensinamos as pessoas a não passar fome, multiplicando a comida, e isso é uma tarefa sem fim no nosso país”, explica a paraibana, que ainda está à frente do Favela Orgânica nas Escolas. O objetivo é começar a educação alimentar desde cedo, para que as crianças aprendam de forma prática, em um paralelo a disciplinas como ciências, geografia, matemática e história, e saibam como evitar a praga do desperdício.
“Estamos fazendo um piloto com 200 crianças do colégio Dom Cipriano Chagas, mas já estou me movimentando para levar essa iniciativa à rede pública de ensino”, conta Regina, que chegou ao Rio aos 19 anos e trabalhou como empregada doméstica. Em suas andanças pelas feiras da cidade, ela percebeu a quantidade de comida que ia parar no lixo. O desejo de mudança juntou-se ao sonho de ser uma grande chef e voilà: o resultado é uma receita que não para de dar frutos para todos em volta.
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