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Fernanda Gentil: ‘O assédio precisa ser punido’

Jornalista diz ter vivido situações que não deveria tolerar: "Atravessar o campo, na transmissão de um jogo, e a torcida gritar 'gostosa', por exemplo"

Por Renata Magalhães
Atualizado em 16 abr 2021, 13h25 - Publicado em 16 abr 2021, 07h00
Fernanda Gentil
Fernanda Gentil: "Sou a rainha das gafes", diz a jornalista, que cita Oprah Winfrey como uma de suas referências profissionais (Glin Mira/Divulgação)
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No dia seguinte à amarga derrota da Seleção Brasileira para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014, Fernanda Gentil, 34 anos, não conteve as lágrimas ao entrar ao vivo na programação da Rede Globo. O episódio é citado pela jornalista quando ela se define como “rainha das gafes”, mas é na verdade um indicativo de sua maneira despojada de fazer TV. “Trabalho para estar cada vez mais próxima ao público”, explica Fernanda, seguida por mais de 6 milhões de pessoas nas redes, um vício que ela admite “sem nenhum orgulho”. “Quando vejo aquele relatório semanal de tempo de uso da internet, é um tapa na cara. É o mal do século que mais me atinge.”

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À frente da nova versão do programa Se Joga, que voltou ao ar remodelado nas tardes de sábado, ela vem liderando os índices de audiência do horário e consolidando seu espaço na área de entretenimento da emissora. Usa a vitrine conquistada ali para ampliar o alcance dos projetos sociais dos quais participa. “Percebi que a solidariedade é muito mais contagiosa do que o vírus. O ano da pandemia foi o que mais trabalhamos.” A VEJA RIO ela não se furtou a cutucar temas polêmicos, como o assédio na TV, nem a falar de como a pandemia se refletiu em sua vida profissional e pessoal.

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Em março, após a demissão de um diretor da Globo, uma ex-apresentadora do núcleo de entretenimento relatou nas redes que havia sido assediada moralmente por ele. Você o conhece profissionalmente? Não, estou há pouco tempo na área, mas não dá mais para passar pano para esse tipo de coisa. O assédio precisa ser punido e é importante a mensagem que essa nova cultura passa. É uma prestação de serviço que uma empresa do tamanho da Globo faz.

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Já passou por algo semelhante? Dentro da TV, não, mas já vivi situações que hoje sei que não precisava ter tolerado.

Poderia dar um exemplo? Dois. Você vai atravessar o campo, durante a transmissão de um jogo, e a torcida começa a gritar “gostosa”. Você vai entrevistar um jogador e ele diz uma gracinha. São coisas que eu achava que faziam parte do jogo. Hoje, com a discussão sobre assédio em outro patamar, sei que não preciso aceitar esse tipo de agressão.

Enquanto as redes sociais abrem espaço para discussões como essas, elas também se converteram em espécies de tribunal da inquisição. Como tira o melhor proveito delas? As redes conseguem dar cara, nome e sobrenome a quem me assiste. Antes eu não sabia para quem a TV estava ligada. Não são pontos de audiência, são pessoas. Isso é tão importante que não dou importância para o lado negativo. Mas, confesso, no início o comentário maldoso de um hater me derrubava. Agora sei que isso diz mais sobre ele do que sobre mim.

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Passa muito tempo nas redes? Sou viciada e não tenho orgulho nenhum disso. Quando vejo aquele relatório semanal, que o próprio celular envia com o tempo de conexão, é sempre um tapa na cara. E quando meu filho fala para eu sair um pouco do celular? São seis semanas de terapia diária, vontade de enfiar uma faca no coração. Dos males do século, esse é o que mais me atinge.

Como a pandemia vem influenciando o modo de fazer TV? A gente precisou reformular o programa todo, basicamente só ficamos com o nome, Se Joga. Não dá para se fechar no mundo da TV quando a realidade lá fora é outra. Este momento pedia um novo conceito, uns dois tons abaixo, mais intimista, enxuto e condizente com o que estamos vivendo. Participo de todo o processo criativo, que é algo que adoro fazer. Aparecer no vídeo é só a ponta do iceberg.

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Quais são suas referências televisivas? Gosto muito do tipo de entrevista que a Oprah Winfrey faz, levantando assuntos contundentes de maneira leve. A entrevista com o príncipe Harry e a Meghan Markle fez o mundo cair, mas parece que eles estavam em uma mesa de bar. A Ana Maria Braga tem isso também. Você chega para tomar café da manhã com ela e conta coisas que nem suas melhores amigas sabem.

Nesse momento em que os canceladores das redes sociais andam a toda, como lida com as dificuldades de estar ao vivo? O ao vivo me traz uma adrenalina única, que nada mais me dá. Fico concentrada no nível máximo. Quando o programa termina, parece que joguei duas partidas de futebol. Nunca fui cancelada por algo que tenha acontecido ao vivo, mas sou a rainha das gafes: cumprimentei o cego, entrei no ar mexendo no celular, chorei no 7 a 1. Não me incomoda porque é uma mistura do ao vivo com a minha maneira de fazer TV. Para mim, não existe pedestal.

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A pandemia também provocou reflexos em sua vida pessoal? Acho que o confinamento pôs em xeque todas as nossas relações. Teve quem se separou, mas também teve quem saiu mais forte de toda essa tormenta.

Em que time está? No segundo. Você percebe que não conhece muito da pessoa que dorme ao seu lado, tem mais espaço para brigas, mas também mais tempo para cuidar da relação. Ainda que tenham existido ruídos no início, claro. Descobri que a Priscila (Montandon, com quem é casada) se incomoda com a minha praticidade, queria que eu desse mais atenção às coisas que ela considera importantes. E eu me apaixonei ainda mais ao perceber como ela cuida de mim.

Recentemente, o papa Francisco deu aval à diretriz que proíbe padres de abençoarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Você tem vontade de se casar na igreja? Já tive e já casei (com o primeiro marido e pai do seu filho mais novo), olha como sou abençoada (risos). Festa, evento e comemoração não me dizem mais nada nesse momento de vida que estou. Mas essa decisão do papa, além de ser muito triste, é perigosa. Acaba inflamando pessoas e pensamentos que deveriam ser combatidos.

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Além do Caslu, ONG que criou para apoiar crianças em situação de vulnerabilidade, você passou a apoiar o movimento Feminismos Plurais, da filósofa Djamila Ribeiro. Quando se deu conta de que deveria abraçar mais essa causa? Entendi que não se posicionar é tomar uma posição. Consegui meu holofote com muito suor e valorizo cada vez mais para onde vou jogar luz. Não somos melhores ou piores do que ninguém, mas temos o direito de sermos iguais. Muito já se evoluiu quando olhamos para trás, mas é para a frente que se anda.

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