Os boatos já circulavam na internet e no Baixo Gávea, onde o Hipódromo se instalou há 75 anos. O clima no salão do bar desde sua reabertura, no último dia 2, era de ouvi-dizer-que-vai-fechar e, no domingo à noite, quando recebeu uma mensagem da dona do negócio marcando uma reunião com todos os funcionários para a manhã desta segunda (20), João de Deus Lopes, mais conhecido como Boi, não teve dúvidas: era tudo verdade. O bar onde ele trabalhou como garçom por 38 de seus 66 anos iria encerrar suas atividades. “Ali caiu a ficha. Acabou”, disse ele a VEJA RIO, pouco depois de terminado o fatídico encontro da equipe com Alessandra Moura.
Alessandra está à frente do Hipódromo há cinco anos, desde a morte do pai, um dos fundadores da casa. Boi conta que a empresária, “uma pessoa muito correta e querida”, fez um discurso emocionante ao anunciar que este seria o segundo dia mais triste de sua vida, perdendo apenas para o dia em que ficou órfã. “Não dá mais para segurar o negócio”, disse ela à equipe.
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“Foi um chororô danado, eu chorei muito”, conta o garçom, figura das mais queridas da boemia carioca e uma das estrelas do livro “Anônimos famosos”, do fotógrafo Gustavo Malheiros. Cissa Guimarães, Marcelo Serrado e Rodrigo Santoro eram alguns dos seus clientes, tratados sem distinção. “Lá ia muita gente da TV, mas para mim sempre foi todo mundo igual, famoso ou não”, diz Boi, que se define agora como “sem rumo”.
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Em 2017, Boi ficou deprimido por se afastar do trabalho para tratar de problemas de saúde. Sentiu falta do furdunço do Baixo Gávea, onde cansou de embarcar clientes alcoolizados no táxi e presenciou vários romances começando nas mesas do Hipódromo, point clássico da azaração da Zona Sul na era pré-Tinder. “A irmã disse na época que ele estava sofrendo muito, sentindo demais a falta dos clientes”, conta o roteirista e estilista William Vorhees, habitué – e um milhares dos órfãos do bar, que já não vinha bem das pernas, e foi mais um a sucumbir à crise gerada pela pandemia do coronavírus.
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