Quem foi Jura Palma, bailarina negra morta aos 91 anos no Rio
Partiu nesta terça (21) um dos principais nomes do prestigioso Ballet Folclórico Mercedes Baptista, fundado pela primeira bailarina negra do Theatro Municipal

Morreu na noite desta terça (21) a bailarina Jurandir Pereira Palma, a Jura Palma, de 91 anos. Ela foi um dos principais nomes do prestigioso Ballet Folclórico Mercedes Baptista, fundado pela primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Jura era viúva e deixou um filho, o enfermeiro André Cavalcanti.
A bailarina estava internada com pneumonia em uma unidade de saúde de Copacabana e não resistiu a uma parada cardiorrespiratória. Há dois meses, ela havia feito uma cirurgia na vesícula e teve uma piora no quadro clínico.
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Negra, Jura nasceu em Salvador, em 1933, e veio com a família para o Rio de Janeiro de navio. A família foi morar em Vigário Geral, na Zona Norte. Antes de conhecer Mercedes Baptista, ela trabalhava como vendedora de uma loja de sapatos.
Após assistir a uma apresentação de dança com bailarinos negros, entre eles, Elza Soares, então 16 anos, no Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, Jura ficou encantada. No mesmo dia, foi apresentada a Mercedes, coreógrafo do espetáculo e professora de dança.
Mercedes a convidou para fazer as aulas, que aconteciam na Gafieira Estudantina, próxima ao teatro, em 1958. Embora não tivesse nenhuma experiência com dança, Jura topou o desafio. Dois anos depois, ela saía em turnê por Buenos Aires com a companhia.
De volta ao Rio, foi abordada por um homem que, ao vê-la de batom e maquiagem, por causa das aulas de caracterização, afirmou que ela era prostituta e tentou estuprá-la. Ela gritou e foi salva por uma mulher que passava pelo local. Traumatizada, não queria mais voltar a dançar.
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Inconformada, Mercedes pediu ao pai de Jura para que ela fosse morar em Santa Teresa com ela. Ele autorizou e, ao longo de 55 anos, Jura e Mercedes estiveram em mais de 58 países com o Ballet Folclórico Mercedes Baptista.
Uma das apresentações mais marcantes aconteceu no dia 21 de abril de 1960, na inauguração de Brasília, na presença do então presidente, Juscelino Kubitschek.
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Jura se tornou mestra em balé afro, montou vários espetáculos no exterior e no Brasil, e fez coreografias para Clara Nunes e para o extinto Oba Oba, casa de espetáculos de Osvaldo Sargentelli.
Em 2023, a Acadêmicos do Salgueiro homenageou a bailarina durante o espetáculo 100 Anos de Mercedes Baptista — Salgueiro no Municipal.
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