Em entrevista no último Rock in Rio, em 2019, Roberto Medina explicou o porquê da escolha de Morena Leite para comandar o bufê da área vip do festival: a chef tinha propósitos alinhados com a história que eles buscavam construir. “Foi a primeira vez que não elogiaram o sabor da minha comida, mas eu fiquei feliz”, lembra rindo. O empresário se referia ao trabalho social desenvolvido por ela há doze anos com o Instituto Capim Santo, que já formou mais de 1 500 pessoas de diversas comunidades para o mercado da gastronomia.
Um ano depois, a pandemia chegou e fechou suas quatro escolas. Mas Morena não se deixou paralisar. Captou recursos e preparou 200 000 quentinhas, distribuídas entre Rio, São Paulo, Itacaré e sua cidade natal, Trancoso. Por aqui, as refeições eram feitas na cozinha de seu antigo restaurante, no Village Mall, pelos jovens recrutados e treinados por ela para pilotar a cozinha do Rock in Rio — todos de favelas como Alemão, Cidade de Deus e Rocinha. “Acredito na criação de uma corrente do bem, que reúna um exército de pessoas contra a desigualdade social”, afirma.
“A cozinha é um local que une as pessoas, além de lhes abrir uma rede de possibilidades e conectá-las com o mundo”
Esse time só faz tomar fermento e crescer. Com ajuda da ex-aluna Andrea Lacocca, Morena chegou até a Biblioteca Parque da Rocinha, reaberta em agosto do ano passado, para comandar o projeto Cozinha do Amanhã. Serão oferecidas aulas teóricas e práticas de culinária, atendimento em salão, história da gastronomia, nutrição, sustentabilidade, entre outras disciplinas do ramo.
No fim de 2021, foram organizadas turmas experimentais, mas a primeira oficial mesmo foi aberta em março, com 25 alunos. O programa, previsto para durar quatro meses, inclui ainda estágio, voluntariado e a visita de chefs brasileiros renomados, como o paraibano Onildo Rocha. Quem tiver um bom desempenho receberá, junto com o certificado de auxiliar de cozinha, uma carta de recomendação para trabalhar com parceiros de Morena.
“A cozinha é um local que une as pessoas, além de lhes abrir uma rede de possibilidades e conectá-las com o mundo”, diz ela, já sonhando em expandir as fronteiras para muitas outras comunidades cariocas.
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