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Trap conquista jovens e ganha protagonismo nos palcos de grandes festivais

Um estilo de rap mais dançante desponta como o "novo rock’n’roll" da juventude, que espalha suas músicas no TikTok

Por Kamille Viola
Atualizado em 20 abr 2022, 09h03 - Publicado em 14 abr 2022, 09h00
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  • XAMÃ - O carioca ficou mais de cinquenta dias no topo da parada nacional do Spotify com Malvadão 3 -
    Xamã: O carioca ficou mais de cinquenta dias no topo da parada nacional do Spotify com Malvadão 3 – (./Divulgação)

    “Então viaja de avião / mó princesa, mó pressão / Só no vapo-vapo do malvadão / Ô.” Nos últimos meses, usuários frequentes das redes sociais certamente esbarraram inúmeras vezes com esse refrão-chiclete. A música é Malvadão 3, do rapper carioca Xamã, que ficou impressionantes 53 dias em primeiro lugar no Top 50 Brasil do Spotify e até hoje figura entre as dez mais tocadas da plataforma — no YouTube, já arrebatou mais de 170 milhões de visua­lizações.

    O sucesso da faixa põe em evidência a ascensão de um estilo que ganha notoriedade — o trap —, uma espécie de filhote do rap que tem influências distintas, como a música eletrônica, para deixar as rimas mais dançantes. Em meados de abril, outra canção do gênero alcançou o topo das paradas: Vampiro, de Matuê, Teto e Wiu, ficou em primeiro lugar entre as faixas nacionais do serviço de streaming. Fim de Semana no Rio, de Teto, estava em terceiro. “Quando um estilo vira linguagem, comportamento, a força dessa música transborda os lugares onde ela está”, acredita o produtor Zé Ricardo, curador musical do Rio2C e diretor artístico do palco Sunset, do Rock in Rio. “O trap se transformou no novo rock’n’roll para a juventude.”

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    MATUÊ - Junto com os trappers Teto e Wiu, o cantor lançou Vampiro, o mais novo sucesso nos serviços de streaming -
    Matuê: junto com os trappers Teto e Wiu, o cantor lançou Vampiro, o mais novo sucesso nos serviços de streaming – (Felipe Vieira/Divulgação)

    Na conferência de criatividade, tecnologia e inovação, que acontece na Cidade das Artes a partir de 26 de abril (leia abaixo), Xamã participa do painel Trap: um Business Milionário, ao lado do empresário Jairo Andrade Netto e de Ice Blue, dos Racionais MC’s. Nascido na Zona Oeste do Rio, em Sepetiba, ele, que começou a cantar rap quando era camelô, estará também no Palco Sunset do Rock in Rio, em setembro. O festival recebe ainda outros expoentes do estilo, como Papatinho, L7nnon, o baiano Teto e o cearense Matuê.

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    Estrelas como Post Malone e Migos, destaques da cena internacional, se apresentam no Palco Mundo, trazendo um pouco mais dessa vertente do rap que começou a ganhar forma no fim dos anos 1990 em Memphis, nos Estados Unidos. Seu nome de batismo, porém, só se popularizaria no início da década seguinte, em Atlanta, derivado das trap houses, casas de produção e venda de drogas, um universo com o qual muitos dos pioneiros do gênero tinham ligação.

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    PAPATINHO - “Hoje em dia tudo vira dancinha, não seria diferente com o trap”, diz o DJ e produtor, dono do selo Papatunes -
    Papatinho: “Hoje em dia tudo vira dancinha, não seria diferente com o trap”, diz o DJ e produtor, dono do selo Papatunes – (./Divulgação)

    As músicas tratam mais de temas como sexo, drogas, disputas de gangues e um lifestyle luxuo­so, e menos de política. O som é mais eletrônico, lisérgico, com forte presença de notas médias, bateria mais acelerada e um flow (a fluidez no cantar do rapper) diferente, menos sincopado. É frequente o uso do software autotune para um efeito meio robótico nos vocais. Outros nomes de destaque lá fora são Travis Scott, DaBaby, Cardi B e Doja Cat, mas até artistas pop, como Ariana Grande e Billie Eilish, já beberam dessa fonte.

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    Assim como na cena estrangeira, a daqui também tem seus modismos próprios e frequentemente fala de um estilo de vida de elevado padrão. Um dos sucessos de L7nnon, o L7, se chama Hermès. Bin gravou Rolex, com Oik e PL Quest. Malvadão 3 faz referência ao “Civicão”, o carro Honda Civic. Xamã defende a ideia de que é uma forma de artistas de origem pobre, que conseguiram a evolução financeira por meio da música, incentivarem os fãs. “Quando falamos de marcas e joias, encorajamos os outros a trabalhar duro também. É uma maneira de empoderamento: ‘Olha só, eu vim do gueto, eu venci’”, argumenta. “Todo o material do trap e do rap é muito autêntico. A gente escreve em primeira pessoa, conta o que a gente vive no nosso dia a dia.

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    O sucesso do estilo vem de mãos dadas com as redes sociais, principalmente TikTok e Instagram. A recém-lançada Só Rock 2, de Rock Danger com participações de Young Ganni, Major RD e Xamã, deixa explícita essa relação ao trazer os versos: “Batendo nos mothafucker / nos trap do TikTok”. “Hoje em dia tudo vira dancinha, né? Com o trap não seria diferente”, lembra Papatinho, produtor renomado no meio do rap e fora dele — produziu de Marcelo D2 a Lil Gabi, a persona trapper de Gabigol, passando por Anitta e Seu Jorge.

    “Essa interação com as redes é o que faz propagar tudo aquilo que eles gostam. Hoje, o nosso maior distribuidor é o público jovem”, analisa Jairo Andrade Netto, fundador da Bagua Records, gravadora que tem Xamã entre seus contratados. A estética é outro elemento importante, que ajuda a cativar. Em meio aos trap stars, chamam a atenção os grillz (joias para os dentes comuns no rap nos anos 80 e 90), tatuagens no rosto e roupas e acessórios de grife. “A imagem está muito atrelada ao trap”, afirma Papatinho.

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    Line-up: Post Malone, Migos e destaques internacionais do trap estarão nos palcos do Rock in Rio em setembro -
    Line-up: Post Malone, Migos e destaques internacionais do trap estarão nos palcos do Rock in Rio em setembro – (Ariel Martini - I Hate Flash/Divulgação)

    Todo esse barulho bom vem movimentando a indústria musical. Fenômenos do rap — com destaque para os artistas que estão embalados pelo trap — acabaram estimulando o surgimento de gravadoras e produtoras especializadas. Pine­apple Storm, 1Kilo, Mainstreet, Papatunes e A Banca são algumas das cariocas. “Eles entenderam a linguagem desses artistas e estão criando um novo mercado, já alinhado com as tendências de hoje”, observa Zé Ricardo, acrescentando que as grandes gravadoras correm atrás dos selos lançados por essa turma, para comprá-los.

    Jairo Andrade Netto parece confirmar a tese do produtor: ele conta que Xamã foi essencial na transição de sua gravadora, fundada em 2010 ao lado dos irmãos, Túlio Dek e Maria Morais, para a atual fase. “Ele me fez abrir os olhos para este momento digital. Minha geração era mais acomodada e, de repente, a gente viu uma molecada fazendo muito barulho”, diz. Eis a explosão do trap.

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    Palco de inovação
    Com programação 100% presencial, o Rio2C volta à Cidade das Artes

    Palco de inovação
    Rio 2C: de volta à Cidade das Artes – (Fernando Souza/Divulgação)

    Depois de duas bem-sucedidas edições, em 2018 e 2019, o Rio2C, como tantos outros projetos, foi pego de surpresa pela pandemia de Covid-19. O evento de tecnologia, criatividade e inovação era uma evolução do Rio Content Marketing, criado em 2011 e dedicado ao audiovisual, e vinha crescendo a cada ano. A um mês da estreia, o jeito em meio ao isolamento foi migrar para o ambiente on-li­ne.

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    Agora, ele está de volta à Cidade das Artes, na Barra, entre 26 de abril e 1º de maio, e chega repaginado: o eixo de conferências traz dez palcos, que abordarão os mais diversos tópicos, do futuro do trabalho às questões ambientais, interligando os assuntos. No setor voltado ao mercado, haverá rodadas de negócios e pitchings de audiovisual, música e inovação. Por fim, a Festivalia é o espaço que vai conectar jovens com palestras, workshops, oficinas e shows — Elza Soares e Marcelo D2 foram alguns dos nomes participantes da última edição presencial, em 2019.

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    Como apostas de temas a ser tratados durante a conferência estão a desaceleração (ou slow content) e o consumo inteligente de conteúdo. A ideia sorveu inspiração do movimento slow food, que questionava a maneira como a comida era consumida nos fast-foods, de forma rápida e sem informações sobre sua procedência. “Essa foi uma reflexão que surgiu ao longo da pandemia”, observa Rafael Lazarini, fundador do Rio2C, que será 100% presencial em 2022. “A gente está fazendo propositadamente essa aposta para as pessoas que estão dispostas a dar uma pausa no seu cotidiano imergirem naquele ambiente, naquele conteúdo, e poderem se relacionar e trocar entre si”, acrescenta.

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