Paparazzi do esporte: cada corrida é um flash
Uma turma de fotógrafos vive de captar imagens de gente que se exercita pela cidade. O povo compra e, claro, posta

Quem frequentou a noite carioca nos idos dos anos 2000, numa era pré-redes, deve se lembrar daquela turma de fotógrafos que vivia nas boates fazendo seus cliques como ganha-pão. Eles reuniam os registros em sites onde, quem quisesse, poderia comprar a imagem e guardar como lembrança. Aí vieram gerações mais diurnas, centradas no bem-estar, que trocam a batida notívaga por uma rotina mais matutina, incluindo práticas esportivas, muitas ao ar livre, sob a moldura dos cartões-postais cariocas. E, num movimento natural, os fotógrafos de plantão mudaram o foco. Agora, eles miram as lentes para corredores, ciclistas, surfistas, remadores, jogadores de vôlei e futevôlei, que já formam uma multidão. E o espocar das câmeras virou fenômeno novamente. “A gente brinca que são os nossos paparazzi, com quem sabemos que vamos cruzar em certos pontos”, conta a advogada Danielle Lomba, que corre na orla de Copacabana e costuma arrematar os registros em ação por uns 20 reais cada.

Como nos tempos das boates, as fotos são disponibilizadas em portais, onde os esportistas inserem uma imagem do próprio rosto para que a ferramenta de inteligência artificial rastreie as fotografias em que aparecem. E pronto, é só clicar e comprar. Um dos primeiros a voltar a atenção para esse segmento foi a Banlek, fundada em 2020 por Jonathas Guerra e Sérgio Illa, que já conta com 3 500 profissionais associados. “Quando faço fotos em um lugar em que não conheço as pessoas, esses sites especializados facilitam muito o trabalho para poder chegar até elas”, explica Eduardo Barão, um mestre nas imagens de surfe e esportes aquáticos, captadas sobretudo nas praias da Barra e do Recreio, dentro e fora da água. Com a ajuda de drones, ele também faz filmes cheios de adrenalina.

Outros cantos da cidade onde se avistam os paparazzi são o Aterro do Flamengo e a orla da Zona Sul, onde há concentração de gente praticando as mais variadas modalidades. O segredo para uma foto dessas bem tirada? “Durante uma corrida, por exemplo, é preciso ir atrás do instante em que a pessoa dá o impulso, e não quando ela toca o pé no chão”, conta Maiko Lima, que bate ponto em Copa e também faz pacotes fechados — como na vez em que subiu a Vista Chinesa nos primeiros raios de sol junto a um grupo de ciclistas.
Boa parte dessa turma que fica por trás das câmeras ganhou experiência em corridas de rua e outras competições, em geral nos fins de semana. De uns tempos para cá, com o crescimento das redes sociais e a popularização desses sites onde comercializam as fotos, a jornada passou a se estender à semana inteira. “Este será o verão dos fotógrafos de rua”, aposta Maiko, associado a outras duas grandes do ramo, a Foco Radical e a Fotop — esta última com mais de 5 000 profissionais cadastrados no Rio. “A nossa geração se acostumou a compartilhar nas redes o que faz. E quem treina gosta de ver a própria evolução. Um bom álbum de fotografias contribui com isso”, diz Heloiza Carvalho, gerente de marketing da Fotop, ela própria corredora. Heloiza conta que a empresa passou a investir no nicho após a pandemia, período com menos eventos que fez os fotógrafos descobrirem formas de faturar um extra. Bom para o mercado e para os cariocas, que, enquanto dão um gás na saúde, garantem muitos e muitos likes.