Marília Gabriela e a importância de falarmos sobre o câncer de pele
Apresentadora revelou a seus quase 1 milhão de seguidores a retirada de um carcinoma basocelular e falou sobre a prevenção
Basta abrir o Instagram e ler de um tudo. Quase sempre, fechamos o aplicativo com aquela sensação de mais do mesmo. Mas esta semana fomos surpreendidos por uma postagem de Marília Gabriela, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A selfie da apresentadora mostrava em primeiro plano um curativo no nariz. A imagem – sem filtros e poses para sair bem na foto – já chamava a atenção por si só, mas a legenda foi ainda mais forte, onde Gabi, com a coragem que lhe é peculiar, anunciou a retirada de um carcinoma basocelular. E seu gesto de dividir isso com os seguidores merece todos os aplausos.
Para quem não está familiarizado com os termos médicos, carcinoma basocelular é o tipo de câncer de pele mais frequente e de incidência crescente no mundo. Embora seja o de menor letalidade, ele pode se apresentar em subtipos histológicos mais agressivos localmente com necessidade de abordagens cirúrgicas mais complexas, além de tratamentos complementares. Falar sobre este tema nunca é demais, porque a informação é a melhor maneira de prevenir – por isso aproveito e deixo aqui o link de duas colunas minhas específicas sobre o assunto (Dezembro Laranja e Mês Mundial da Prevenção ao Câncer de Pele)
A postagem de Marília Gabriela foi feita no Dia Internacional da Mulher. E como uma mulher que sempre esteve à frente do seu tempo, ela escolheu contar sua história para chamar a atenção de seus quase 1 milhão de seguidores sobre a importância da prevenção ao câncer de pele. Ela contou que uma espinha do lado esquerdo do nariz chamou a atenção e seu médico, o dermatologista Otávio Macedo, desconfiado, decidiu fazer exames mais aprofundados que resultaram no diagnóstico de carcinoma basocelular. Uma semana e meia depois, ela fez a cirurgia para retirada. “Passei uma semana bem da estressante”, ela comenta. Uma das complicações do basocelular, dependendo do subtipo, é que ele avança rapidamente no local. No caso de Gabi, apareceu no nariz, e se estivesse avançado poderia refletir numa cicatriz importante, o que sempre é muito delicado no caso de pessoas que trabalham com a imagem – isso caso não tivesse sido diagnosticado precocemente. Quando a lesão ainda é pequena, a recuperação é muito satisfatória.
Ao falar sobre o assunto, sem glamourização e de forma bastante sincera, a apresentadora e atriz falou sobre um um ponto fundamental da prevenção aos cânceres cutâneos: o diagnóstico precoce feito a partir da consulta de rotina com o seu dermatologista ou com um dermatologista oncologista de confiança, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Conhecer o histórico do paciente é sempre muito importante. Eu sempre repito: nenhum câncer de pele deve ser chamado de “cancerzinho”. A cura de qualquer câncer, inclusive o de pele, sempre tem maiores chances quando o diagnóstico é o mais precoce possível, principalmente porque existem também lesões assintomáticas. No caso de Gabi, uma espinha incurável chamou a atenção, e ela procurou um médico.
Não podemos esquecer: um exame dermatológico completo deve ser feito pelo menos uma vez ao ano. Isso contribui muito para a prevenção. Gabi também citou outro fator fundamental para prevenir câncer de pele: o uso de protetor solar, inclusive quando não saímos de casa. Atenção: às vezes passamos no rosto, mas esquecemos principalmente da ponta do nariz e da orelha.
“Como disse meu cirurgião, dr. Luiz Roberto Terzian, quando argumentei que tomei sol pra valer e sem protetor ‘só’ na adolescência: ‘Não importa, tomou sol uma vez, na idade que for, é pra sempre’”, contou a apresentadora na legenda de seu post. Já comentei em outras colunas, em vários programas de que já participei e todo dia no consultório: o sol que pegamos até 12 anos de idade será o responsável por mais ou menos 80% das doenças relacionadas a ele em qualquer fase da vida. Por isso a proteção desde bebê é tão importante. O sol é cumulativo. Um dos fatores de risco do câncer cutâneo é o histórico de queimaduras solares mesmo que intermitentes e desde a infância. O sol exagerado e com episódios de queimadura solar (vermelhidão, descamação e até bolhas) antes dos 18 anos já pode marcar a pele dos jovens de um risco de desenvolvimento do câncer de pele no futuro.
Segundo dados recentes do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil, o número de casos novos de câncer de pele não melanoma esperados, para cada ano do triênio 2020-2022, será um total de 177 mil, correspondendo a um risco estimado médio (homens e mulheres) de cerca de 83 casos novos para cada 100 mil habitantes. Na pandemia, pude constatar algo ainda mais preocupante pelos relatos que ouvi no consultório: muitas pessoas relaxaram em relação ao hábito de aplicar filtro por estarem isoladas. Além de tratar os pacientes, foram meses de trabalho para voltar a educá-los quanto à necessidade de proteção diária dos raios solares, mesmo que não estejamos expostos diretamente ao sol. Em uma legenda tão pontual, Gabi foi capaz de explicar de forma bastante elucidativa alguns dos pontos principais em relação à doença. Obrigada, Gabi, e uma rápida recuperação para você!