Nem só de paisagem vive um ponto turístico. O ritual do passeio, por menos consumista que seja o perfil do visitante, sempre acaba por incluir lembrancinhas, badulaques de gosto duvidoso e mesmo presentes mais robustos. No complexo do Pão de Açúcar há lojas, restaurantes, bares, um museu interativo e até alguns serviços para os mais endinheirados, como o tour de helicóptero. E, independentemente do poder do bolso, quase todo mundo participa do conhecido momento da “foto do pratinho” (veja o quadro na pág. 18).
O burburinho do comércio se inicia, de fato, ainda no chão, no corredor que dá acesso à Estação Praia Vermelha, na base do Morro da Babilônia. Ali, os mais ansiosos já começam a se abastecer de pequenezas, se bem que melhor seria deixar essas comprinhas para a volta do teleférico, para não carregar peso extra na bolsa durante o passeio. Com ares de butique, a Pão de Açúcar Shops reúne quinquilharias como chaveiros de borracha, com o nome da cidade, a 6 reais. As clássicas camisetas ? com estampas que entregam quem é turista ? giram em torno do tema “estive aqui”, com ilustrações de ícones do Rio e preços indo até 80 reais. Quem preferir levar itens de decoração poderá optar por peças de acrílico (por volta de 50 reais) que reproduzem os dois morros do bondinho e o Cristo Redentor, este num porta-guardanapos. Indispensáveis no kit mudanças climáticas, as capas de chuva custam 10 reais. E, antes de embarcar no bonde, ainda dá para saborear uma bola do Sorvete Brasil. Tem de tudo, de tapioca a cupuaçu, por 9 reais.
Chegando ao topo do Morro da Urca, quase automaticamente todos os turistas são puxados, como por um ímã, ao mirante principal, à esquerda do desembarque. É que de lá se descortina o visual da Praia de Botafogo e do Aterro do Flamengo, além de boa parte da Zona Sul e do Centro. O bom é que é de graça. Caminhando menos de 50 metros se chega ao Espaço Baía de Guanabara, uma espécie de praça de alimentação 220 metros acima do nível do mar. Funcionando há dois anos, com mesas e espreguiçadeiras espalhadas por quase 1?000 metros quadrados, tem capacidade para 350 clientes e reúne restaurantes como o Abençoado e redes de comidinhas como o Rei do Mate, além da República da Fruta, com sua mistura de sucos, vitaminas e caldas.
No terreno das compras, a autoexplicativa Loja das Sandálias vende modelos das marcas Havaianas e Ipanema. As opções custam de 20 a 150 reais. Há também ali artigos de moda praia, como cangas e óculos escuros. Em frente fica a joalheria H.Stern, na verdade apenas um mostruário ? o cliente observa as joias, muitas delas de água-marinha ou esmeralda, e, se houver interesse, é encaminhado para outra unidade, em Ipanema ou no Shopping Rio Sul, em Botafogo ? mas, durante os festejos dos 100 anos do bondinho, a rede venderá lá em cima, e apenas ali, um berloque de ouro e turmalina, com o formato do Pão de Açúcar e do Morro da Urca. Preço da peça exclusiva: 1?490 reais.
Ainda no Morro da Urca fica o Espaço Cultural Cocuruto, de visitação gratuita, que conta um pouco da história da construção do bondinho. Chamam atenção os vídeos, as fotos antigas e uma instalação que, rodeada por elásticos vermelhos, reproduz um filme sobre a conquista do Pão de Açúcar. É divertido observar a comparação, projetada em grandes círculos, entre o sistema antigo e as modernidades implantadas inicialmente em 1972, depois em 2008.
Não se paga também para circular na parte do complexo onde repousam antigos modelos de bondinhos. Duas semanas atrás, a estudante sul-africana Lauren Gould, 25 anos, passeava por ali tirando divertidas fotos de dentro da composição mais antiga, de 1912. Ela diz ter achado a vista linda, mas se mostrava com certa pressa: “Quero descer antes de ficar escuro”.
Para quem tem mais calma (e talvez menos medo), a parada final é mesmo o Pão de Açúcar, espécie de mirante de 360 graus, a quase 400 metros do asfalto. A paisagem é tão bonita que existe a exploração de lunetas ? serviço baratinho (1 real), eventualmente com filas e sem período de tempo definido, o que provoca cara feia dos que acharem que a pessoa da frente só pode ficar no máximo dois minutos se deliciando com o que vê. Também há uma lanchonete no pico, onde um cheeseburger sai a 7,50 reais, e surge uma segunda oportunidade para comprar joias, agora na Amsterdam Sauer. Com vendedores poliglotas, a loja não raro abriga, no mesmo minuto, uma reunião de turistas dos cinco continentes em busca “da” pedra brasileira. Mal sabem eles que já se encontram sobre o gnaisse que é marca registrada do país.