A maior preocupação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, não são organizações terroristas, como o Estado Islâmico, por exemplo. As atenções dos órgãos de segurança e inteligência estarão voltadas, principalmente, para os chamados “lobos solitários”, pessoas que conhecem, pela internet, a ideologia de uma organização terrorista e agem em prol dela sem jamais ter tido contato com seus membros.
“Nós, no Brasil, temos uma distância física muito grande, controlamos muito bem essa movimentação em âmbito internacional e não temos células terroristas instaladas no nosso território. A nossa preocupação é exatamente com esse indivíduo que vive no nosso país e se radicalizou por intermédio da internet”, disse o diretor de Contraterrorismo da Abin, Luiz Sallaberry.
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Segundo ele, os recentes atentados terroristas em Paris, no dia 13 de novembro, provocou um “alerta” nos serviços de inteligência para os Jogos de 2016. “A gente está vendo que está ocorrendo um recrudescimento dessas ações e isso gera um alerta adicional para nós. Não é nada que gere uma preocupação excessiva ou temor. Mas, certamente, um avanço nesse tipo de medida deve ocorrer no nosso dia a dia”, explicou.
Sallaberry ressaltou, no entanto, que os eixos de segurança pública e de defesa, que junto com a inteligência, compõem a segurança dos Jogos Olímpicos, não farão alterações em virtude do ocorrido em Paris. Os investimentos, segundo ele, já foram “maciços” em várias áreas e são adequados.
A Abin abriu nesta segunda (23) o Seminário Internacional Enfrentamento ao Terrorismo no Brasil, que reunirá durante toda a semana profissionais de segurança e inteligência dos Jogos de 2016. Em sua fala de abertura do evento, o diretor-geral da agência, Wilson Trezza, explicou que delegações de dez países são consideradas de “alta sensibilidade” a ações terroristas.
Trezza se referiu às delegações dos Estados Unidos, do Canadá, Egito, da França, Grã-Bretanha, do Irã, Iraque, de Israel, da Rússia e Síria. Outras delegações são vistas com menor preocupação, mas ainda merecem atenção, como a da Alemanha, Espanha e Jordânia.
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Para os dois diretores da agência, o Brasil está pronto para receber os Jogos Olímpicos e oferecer a segurança adequada. “Temos um papel desafiador, mas nos consideramos à altura do desafio”, disse Trezza. Presente à abertura do seminário, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Ricardo Berzoini, destacou a importância da cooperação internacional na prevenção de atentados terroristas.
“Precisamos trabalhar com muita cooperação internacional porque esse é um assunto que não se resume às fronteiras de cada país, como bem deixou claro os atentados em Paris e depois no Mali. A prevenção tem que ser internacional”, disse Berzoini. O ministrou mencionou o trabalho de segurança feito na Copa do Mundo de 2014 e acrescentou que as Olimpíadas contam com mais países e mais diversidade cultural e política.
“Evidentemente, as Olimpíadas têm muito mais países e com uma diversidade política e de relações internacionais muito mais complexa. Então, temos que redobrar os esforços, aproveitar o que foi feito na Copa e produzir iniciativas e resoluções que sejam capazes de melhorar o que já foi feito”.
O ministro também demonstrou cautela com o tema. Apesar de admitir não entender profundamente do assunto, disse que “todo cuidado é pouco” com atentados terroristas durante os jogos. “[O terrorismo] é um desafio para grandes potências, países que já têm experiência com esse tipo de evento. Portanto, temos que ter a mesma preocupação, saber que todo cuidado é pouco e que todos os preparativos têm que ser feitos com muita responsabilidade”, afirmou.