A ArtRio chega à sua terceira edição no Pier Mauá comemorando algumas conquistas. Desde 2011, consolidou-se como um sucesso de público, ganhou relevância na oferta e na qualidade dos expositores e, principalmente, tornou-se passagem obrigatória para colecionadores iniciantes, ávidos por adquirir novidades. Trata-se de um grupo cada vez mais numeroso e diversificado, distante do perfil geralmente associado a nomes emblemáticos do ramo, como Gilberto Chateaubriand, Sergio Fadel e Jean Boghici, donos de imensos acervos com milhares de obras amealhadas durante décadas. Os novos garimpeiros de arte possuem conjuntos representativos em qualidade, mas que, iniciados há pouco mais de uma década, ainda não são tão grandes em volume e valor. Para os noviços, no entanto, o que não falta é disposição e, naturalmente, cacife não apenas para bancar a aquisição de peças caras, mas também para percorrer feiras do ramo seja no Brasil, seja no exterior. “Esse tipo de aficionado é muito representativo na nossa lista vip, e vem se multiplicando desde a primeira edição da feira”, diz Brenda Valansi, sócia da ArtRio. Fazer parte desse seleto time, no caso da feira carioca, significa ter privilégios como, por exemplo, entrar nos pavilhões antes de todo mundo para escolher as melhores obras e ter acesso a salas com atendimento preferencial, longe da balbúrdia e dos curiosos.
Em geral, o novo colecionador parte de um desejo prosaico: decorar a casa. Foi assim com o executivo do mercado financeiro Fabio Szwarcwald, de 41 anos. Em 2003, ele comprou cinco obras de um marchand para adornar as paredes do seu apartamento. “Comecei ali e não parei mais”, lembra o financista, hoje dono de um acervo de aproximadamente 300 trabalhos. Como aconteceu com a maioria dos seus pares, as feiras de arte acabaram se tornando para ele uma espécie de extensão das galerias. Depois de compradas as primeiras peças, Szwarcwald estreou, já em 2004, na Zona Maco, um dos mais importantes eventos do gênero no México. Voltou com três criações de artistas latinos ? quase nada, considerando-se o apelo que essas ocasiões costumam despertar nos estreantes. “É como se fosse um parque de diversões para uma criança”, compara Ana Cecília Gros, 41 anos, empresária do ramo de bufês, que já esteve na SP Arte, na Miami Basel e se prepara para conhecer a Frieze, de Londres. De fato, as vantagens são incontestáveis. Se um comprador seguramente teria dificuldade de encontrar uma escultura de Alberto Giacometti à venda no Rio, no ano passado só o estande da galeria americana Gagosian na ArtRio tinha duas ? uma foi adquirida pelo empresário Luís Paulo Montenegro, 55 anos, vice-presidente do Ibope, por um valor que ele não revela de jeito nenhum (preço é um assunto tabu para essa turma).
Uma das primeiras lições que os novatos da arte aprendem ao debutar no circuito de arte internacional é que, em um evento desses (assim como acontece na feira livre da esquina), quem chega primeiro leva a melhor mercadoria. Daí a importância de fazer parte das listas de compradores preferenciais, escolhidos a dedo por seu potencial de compra ? no caso da ArtRio, cada galeria participante pode indicar trinta de seus clientes, o que dá um total de 3?000 pessoas, cerca de 5% do público total do evento. De acordo com o economista Don Thompson, autor do livro O Tubarão de 12 Milhões de Dólares, que destrincha a dinâmica desse mercado, metade das peças mais relevantes é vendida na primeira hora desses convescotes artísticos. “Lembro-me da segunda vez em que fui à Miami Basel. Quando abriram as portas, as pessoas invadiram como se estivessem em uma corrida, naquelas liquidações de filme”, conta Luís Paulo Montenegro. Mesmo quem não dispõe dos convites especiais, porém, pode esbarrar com achados. O consultor de arte Guilherme Gonçalves, 43 anos, voltou de uma das edições da Basel, na Suíça, com uma peça do americano Joseph Kosuth, um dos maiores criadores de obras conceituais do mundo. E até de artistas menos estrelados surgem boas surpresas. Foi o que aconteceu com o vendedor Beto Silva, 41 anos, na última SP Arte: “Comprei uma caixa de música criada pelo gaúcho Walmor Correa de uma série que eu adorava e da qual nunca imaginei que ainda houvesse um exemplar à venda”, lembra.
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Disposição para o garimpo e ânimo para percorrer milhares de metros quadrados de estandes, portanto, são pré-requisitos fundamentais para quem quer se aventurar a começar uma coleção na próxima ArtRio (confira alguns destaques deste ano no quadro ao lado) ou em qualquer uma das centenas de feiras espalhadas pelo planeta. Trata-se, aliás, de um número crescente: um levantamento de 2008 contabilizou 250 eventos relativamente importantes do gênero realizados naquele ano, contra 55 em 2001. O ambiente de shopping center, com gente, iluminação e barulho excessivos, costuma ser descrito como “o melhor exemplo da pior maneira de ver arte”. Por outro lado, quebra o clima um tanto gélido comum nas galerias convencionais. “É nas feiras que o cliente tem acesso direto ao marchand, que costuma ficar sempre no seu estande. Como há várias pessoas na mesma situação que ele, é mais fácil perguntar sobre a obra e o artista”, explica a galerista Silvia Cintra. Outra prática muito aceita pelos marchands (e adotada em peso pelos colecionadores, mesmo os mais graúdos) é a barganha. Resumidamente, funciona assim: ou se pede um desconto à vista (é de bom-tom que o valor do abatimento seja sugerido pelo vendedor) ou se opta pelo pagamento integral, mas parcelado. “O importante é não se sentir intimidado”, resume Brenda Valansi. Com sorte (e algum dinheiro no bolso, naturalmente), pode ser o início de uma bela coleção.