O advogado Bruno Candido denunciou ter sofrido racismo em uma viagem de Uber, na última sexta (6). Em um vídeo em seu Instagram, ele mostrou uma discussão sua com o motorista, identificado apenas como Edson. Candido contou que estava indo para a Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), onde estuda, e o homem não seguiu a rota indicada pelo aplicativo. Questionado, resolveu levar o passageiro à delegacia.
Ao chegar na 4ª DP (Centro), o inspetor, conhecido como Campos, se recusou a registrar a ocorrência, o que também é mostrado em vídeo. “Lá [o motorista], disse que eu não quis descer do carro e que era agressivo. O policial entendeu que eu não pratiquei crime. E aí eu disse que o motorista praticou crime de racismo contra mim e que queria registrar a ocorrência. O policial negou. Eu disse que a lei estadual 2.235 me garante esse direito, e que queria que no mínimo ele fizesse a qualificação do motorista (que ali revelou que também era advogado), e o policial liberou ele”, relatou Bruno Candido.
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De acordo com Candido, o policial que se recusou a fazer o registro possui um histórico de não fazer ocorrências em casos de racismo. Ele teria se negado a atender quatro jovens negros acusados de roubarem os próprios celulares, mesmo eles tendo comprovado que eram donos dos telefones, e oito advogados negros teriam sido impedidos de entrar na DP fazer um RO de racismo e abuso de autoridade contra uma mulher branca.
O advogado precisou aguardar outro policial para que pudesse fazer o registro. Após muita insistência, ele conta, o caso foi registrado como “medida assecuratória de direito futuro”, quando não há investigação sobre a ocorrência.
“É frequente a recusa das delegacias em investigar casos que se relacionam com pessoas pretas. Isso não começa só em registros de ocorência”, desabafou o advogado, em um vídeo publicado em seu perfil após a situação. Ele ressaltou que a discimrinação racial está muito além da verbalização de uma injúra racial, ou seja, de xingamentos racistas.
“Vocês foram doutrinados para o lugar da injúria racial porque o judiciário, que criou uma doutrina branca, disse que a injúra racial era o lugar de sociabilidade do crime contra pessoas negras, e não se trata disso. A gente está discutindo a divisão de terras, a gente está discutindo a impossibilidade de acessar a educação, a gente está discutindo o que eu sofri, que é você não ter direito à cidade. […] O fato de não ter distribuição de direitos iguais a pessoas que se parecem comigo e vêm da onde eu venho”, afirmou.
Atualização: a Uber entrou em contato com VEJA Rio, por meio de uma nota, afirmando não tolerar “qualquer forma de discriminação” e informando que a conta do motorista foi desativada da plataforma. “Em casos dessa natureza, a empresa encoraja a denúncia tanto pelo próprio aplicativo quanto às autoridades competentes e se coloca à disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei. Além disso, em parceria com o MeToo, a Uber disponibiliza um canal de suporte psicológico que será disponibilizado ao usuário”, diz um trecho.
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