Em 2013, Allan Di Lucia entrou no tatame para disputar o campeonato estadual de jiu-jítsu, no Clube Municipal, na Tijuca. Saiu de lá com a medalha de ouro no peito. Mas sua maior vitória viria a seguir. Ao fim da disputa, foi abordado por um jovem com paralisia cerebral, que o convidou para lutar com ele, ali mesmo, numa apresentação despretensiosa. Di Lucia topou. “Foi uma das maiores experiências da minha vida. A alegria dele era contagiante”, diz o campeão e estudante de educação física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), hoje com 24 anos. Desde então, aquela cena ficou na sua cabeça. Seis meses depois, ele foi à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), também na Tijuca, e se ofereceu para dar aulas de jiu-jítsu como voluntário. Nascia aí o projeto Jiu-Jítsu sem Limites. “No início, eram cerca de dez alunos apenas. Hoje, são 120 pessoas, cuja faixa etária vai de 14 a 57 anos”, revela, com orgulho, o lutador, que conta com a ajuda de três amigos nas aulas.
Para os que frequentam os treinos ministrados por Di Lucia, os benefícios são muitos. “A luta ajuda na questão física, otimizando o sistema cardiovascular e minimizando a rigidez muscular, própria de quem tem síndrome de Down. E ela ainda tem caráter social. Eles deixam de ser apenas especiais; são lutadores, seguem regras e, assim como quase todo mundo, fazem uma atividade extra”, explica Di Lucia, que garante que também se beneficia do convívio com os alunos. “O amor deles é muito puro, de um afeto genuíno”, diz o lutador, que, há cerca de um ano e meio, teve de abandonar as competições por causa de dois tumores benignos no cérebro. “Eu estava treinando, tomei uma pancada na cabeça e perdi a memória. No hospital, descobri o problema. Não posso operar, por causa da localização dos tumores, mas levo uma vida normal”, conta o professor.