Transmitido ao vivo da chamada Casa de Cristal, um estúdio especialmente construído no Projac, o programa Mais Você, de tempos em tempos, traz uma surpresa para o telespectador. Na segunda-feira (15), a apresentadora Ana Maria Braga discorria sobre as virtudes da abóbora enquanto preparava um nhoque feito com o fruto diante das atrizes Fernanda de Freitas e Taís Araújo. Depois de passar sete minutos amassando, espremendo e misturando a polpa cor de laranja, lançou uma deixa para Taís, que parecia um tanto quanto tensa: “Você vai adorar este nhoque”. A atriz disparou à queima-roupa, com riso amarelo: “Não vou adorar, não. Eu não gosto de abóbora. Eu não como. Só vou olhar e bater palmas”. Ana Maria, também entre risos, tascou uma dura em Taís, tornando evidente seu descontentamento. Pronto. Estava armada a quizumba que nos dias seguintes agitaria com memes e tuítes o mundo virtual das fofocas de TV. Farra semelhante havia acontecido em abril, quando uma conversa entre Letícia Spiller e Ana Maria degenerou em um hilariante exercício em que a atriz rodopiou loucamente pelo palco por quase um minuto, sob o olhar atônito da apresentadora. A performance virou sucesso no YouTube e foi o assunto mais comentado no Twitter naquele dia.
Os dois episódios provam que a veterana apresentadora de 68 anos segue firme em sua capacidade de fazer barulho à frente de uma atração que está completando dezoito anos no ar. Ainda assim, são recorrentes os burburinhos de que o programa pode acabar ou mudar drasticamente de formato. Em 2012, muitos davam como certo que, com a chegada de Fátima Bernardes à grade de entretenimento, era apenas questão de tempo o completo definhamento da loura platinada. Não foi o que se viu. A audiência mensal do programa oscila na média de 9 a 10 pontos, o que o torna o líder absoluto do horário, com picos diários de até 13 pontos. O Encontro, de Fátima, se mantém em uma faixa semelhante. Em meio a tanto disse me disse, Ana Maria é veemente quando apresentada à possibilidade de abandonar seu feudo matutino. “Não existe nenhum plano para fazer alterações no programa”, diz ela, que assinou novo contrato com a emissora por mais quatro anos. “E aposentadoria, para mim, nem pensar.”
A receita do sucesso de Ana Maria e do Mais Você entre os fãs sustenta-se em um único pilar: sua espontaneidade. Gafes e encrencas como a protagonizada por Taís Araújo tornaram-se parte do cardápio da atração. Declarações bombásticas e não raro constrangedoras, também. “Acho até que fiz poucas bobagens em dezoito anos de programa. Quando falo ou faço alguma coisa errada, sei que errei. Mas o Mais Você é ao vivo, então o jeito é rir e ir em frente”, diz. Conquistar tamanha liberdade de ação, entretanto, não foi tarefa simples. Seu primeiro e talvez mais grave embate na Globo aconteceu assim que chegou à emissora, em dezembro de 1999. Ela não escondia de ninguém a frustração com o trabalho na nova casa, onde tentavam enquadrar no padrão global o estilo espalhafatoso e popularesco que trouxe da Record. Até que, em uma ocasião, ao vivo, tirou do ouvido o ponto eletrônico pelo qual recebia as ordens do diretor e surpreendeu os telespectadores ao dizer que estava infeliz. Prosseguiu falando que o cenário era bonito, mas que não se sentia à vontade e não estava conseguindo dar o que o público merecia. Encerrada a transmissão, foi chamada para uma conversa com a cúpula da empresa. “Eu disse a eles que não podia me transformar em quem não era. Ou eles confiavam em mim e me davam liberdade ou não iria dar certo”, recorda. Os diretores aceitaram fazer concessões, e a atração engrenou. “No programa, como na vida, sou muito verdadeira. Às vezes, beiro o sincericídio.”
Para estar no ar às 8h50, e soltar seu estridente “Acorda, menina” de segunda a sexta, Ana Maria se levanta invariavelmente às 4h30. Para isso, costuma ir para a cama às 22 horas e raramente janta fora. Dona de uma notável autonomia na emissora, ela possui total liberdade para escolher seu figurino e mexer nas madeixas — a ponto de ter exagerado de tal forma nas tinturas que os fios começaram a se quebrar. Há oito anos, em outro sinal de status inequívoco, deixou de usar o ponto eletrônico, uma prerrogativa de pouquíssimos apresentadores. Participa das reuniões de pauta de seu programa e, mesmo com um roteiro em mãos, investe forte no improviso. Quando há alguma notícia urgente ou uma correção a ser feita, a missão cabe a seu alter ego, o papagaio Louro José, interpretado por Tom Veiga, devidamente equipado com o comunicador no ouvido. “A Ana sabe com quem fala e como fala, tem essa característica no DNA. Consegue ser a apresentadora e o público simultaneamente”, elogia o diretor José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, responsável pelo Mais Você.
Manter cativo o telespectador por muitos anos e ter boa aparência todas as manhãs é uma tarefa hercúlea. Ana Maria, por mais que queira, não pode se dar ao luxo de fazer tratamentos constantes em clínicas de estética. No entanto, ela já aproveitou folgas mais longas para tentar deter o impacto do tempo. Foi em ocasiões assim que implantou silicone nos seios, acertou as nádegas com uma gluteoplastia e se permitiu um lifting na face. Também costuma recorrer ao Botox com frequência. Adora vitaminas e engole pelo menos dez pílulas por dia. “Não é fácil envelhecer, diante ou não das câmeras. Se eu dissesse que gosto de ver as minhas rugas na TV, estaria mentindo”, assume. É comum as fãs perguntarem qual a receita para manter seus 52 quilos distribuídos em 1,60 metro de altura. No café da manhã come um ovo mexido e, no decorrer do dia, belisca todas as receitas que testa em sua cozinha experimental. Durante esse período, consome ainda dez garrafinhas de 350 mililitros de água. No princípio da noite, janta em sua cobertura, localizada em São Conrado, uma refeição leve, preparada com produtos orgânicos provenientes de sua fazenda, no interior de São Paulo. Maníaca por panelas — tem mais de 200 —, também é fanática por supermercados. Certa vez, saiu disfarçada em uma madrugada para xeretar em meio às gôndolas de uma loja 24 horas próxima de sua mansão, em São Paulo. “Estava me deliciando nos corredores vazios quando me descobriram de peruca preta. Morri de vergonha”, lembra. Muito da popularidade de Ana Maria vem da empatia e da proximidade com suas fãs. Mãe de dois filhos e avó de três netos, a apresentadora foi casada três vezes — com o economista Eduardo Carvalho, com seu ex-segurança Carlos Madrulha e com o empresário Marcelo Frisoni. Atualmente se declara solteira, mas não descarta novos relacionamentos. “Sexo é uma das melhores coisas do mundo. Por mais que algumas pessoas achem o contrário, não tem idade mesmo. Sinto pena de quem não gosta”, diz. Entre o divórcio de Madrulha e o casamento com Frisoni, foi vista trocando um selinho com a cantora Simone. A apresentadora descarta qualquer possibilidade além de uma singela bitoca fraternal. “Simone é uma amiga, uma irmã. A minha preferência até hoje é masculina”, esclarece. “Mas isso pode mudar. Eu namoraria uma mulher, por que não?”
Poucas personalidades do showbiz expuseram seus dramas com tanta franqueza como Ana Maria. Em 2001, ela teve o diagnóstico de um câncer no canal anal e se submeteu a um doloroso tratamento radioterápico. E, durante meses, usou um dispositivo subcutâneo por onde recebia doses de quimioterapia e morfina para suportar a dor. “Eu não podia desanimar, mas às vezes desabava a chorar debaixo do chuveiro. Você sente a finitude da vida, vê a morte de perto mesmo”, relata. Em 2015, retirou um nódulo do pulmão, o que a levou a encabeçar uma campanha pelo combate ao fumo no Mais Você. Por ironia, ela não consegue se livrar do vício — fuma cerca de um maço de cigarros por dia. A dependência é tanta que Ana cogita se internar em uma clínica por um mês. O apoio de amigos, como a atriz Cláudia Raia e Xuxa, ajudou no processo. “Conheci a Aninha através da minha mãe, e foi fácil me apaixonar pela pessoa que ela é. Sempre penso nela com um carinho absurdo e mando boas energias”, diz a eterna rainha dos baixinhos.
Com 45 anos de trabalho, 31 deles na televisão, a comandante do Mais Você se transformou em uma máquina de fazer dinheiro. Há lençóis, panelas, eletrodomésticos e até ovos licenciados com a sua assinatura. Publicou mais de 100 livros, a maioria de receitas. Disputada no mercado publicitário, anuncia de bancos a ração de cachorro. “Ela é a credibilidade em pessoa e tem acesso total às donas de casa. Isso é um patrimônio inestimável”, avalia o publicitário Nizan Guanaes.
Calcula-se que, entre salário e merchandising, Ana Maria ganhe mais de 1 milhão de reais por mês. Além da cobertura no Rio e do casarão em São Paulo, tem um tríplex na capital paulista, uma casa de praia em Maresias (SP), um apartamento em Nova York e um iate. “Tudo declarado no imposto de renda”, frisa. Apaixonada por carros, guarda sete possantes em suas garagens, entre eles um Porsche, um Range Rover Sport e o primeiro Mercedes-Benz que comprou, ano 1995. E, sempre que sai em um deles, vai acompanhada das cadelas Cristal, Paçoca e Sombra, que a seguem por todos os cantos — até mesmo ao estúdio, onde latem, rosnam e pulam no colo dos convidados. Formada em biologia e com uma longa carreira em que se misturam passagens por emissoras extintas, como Tupi e Manchete, já chegou a ficar seis horas diárias no ar, quando conduzia o Note e Anote, na Record. Atualmente, cada programa de Ana Maria dura oitenta minutos. A capacidade de fazer barulho, no entanto, é bem maior.