O videomaker André Felipe Alves, 42 anos, foi criado na comunidade da Barreira do Vasco, em São Cristóvão, e teve muitas privações. Aos 9 anos, já vendia doce para colaborar em casa. Mas, graças ao auxílio de um e de outro e a muito esforço, André conseguiu se estruturar. “Sofri muito. Então, depois que me tornei adulto, meu desejo era não ver mais as pessoas sofrendo como eu. Por isso, sempre ajudei como pude”, explica. Há três anos, no entanto, ele resolveu usar o estúdio que tem na parte da frente da casa onde mora, em Benfica, para dar aulas gratuitas de fotografia e filmagem a quem se interessasse. Os únicos requisitos: ter vontade de aprender e estar em busca de oportunidade.
“Falo sempre a meus alunos: ensine o que você sabe a alguém, nem que seja fazer salgadinhos.”
Ao ver que a procura crescia, André decidiu buscar um espaço maior e achou acolhida em uma igreja em Vila Isabel. É lá que há quase um ano funciona o projeto Afa Vídeo. O curso de fotografia e filmagem dura cerca de cinco meses, com aula três vezes na semana. Para isso, André usa o próprio equipamento e ainda dá aos alunos mais necessitados o dinheiro da passagem. “Alguns chegavam e diziam que iam abandonar tudo porque não tinham como chegar lá. Aí, improvisei uma cantina. O montante arrecadado serve para a locomoção deles”, revela André, que não conta com nenhum apoio financeiro. “Não quero dinheiro, pois não sou ONG. Mas, se alguém doasse algum equipamento, seria diferente. Só que ninguém apareceu”, diz, com bom humor. “O mais legal é que as minhas aulas serviram de inspiração, e os membros da igreja se engajaram e começaram a fazer o mesmo. Hoje, há cursos de português, inglês, elétrica, informática e primeiros socorros”, revela, com orgulho.
O engajamento dos conhecidos é prova de que a iniciativa deu certo, já que um dos objetivos de André é justamente disseminar a própria ideia. “Falo sempre aos meus alunos: ensine o que você sabe a alguém, nem que seja fazer salgadinhos. Muita gente não tem nada, e nas comunidades o tráfico recruta qualquer pessoa. Precisamos recrutar primeiro”, justifica André, que já viu alguns alunos se tornarem profissionais. “É esse resultado que me move. Na infância, sofri bullying. Eu só tinha uma camisa, e uma professora me segurava, me virava para a turma e me chamava de negro sujo. Isso machuca até hoje. Então, quando alguém me chama de professor, penso nela e digo a mim mesmo: preciso ser o contrário do que ela foi.
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