Recanto da cidade que por décadas parecia parado no tempo, abandonado e sem vida, o entorno da Pedra do Sal, na Zona Portuária, voltou em 2011 à cena cultural carioca e, agora, vem aí com três novidades. Ainda estão na fase “projeto”, mas têm tudo para vingar, já que são ideias tocadas por uma espécie de Midas local: o empresário André Peterson. Ele pretende abrir um hostel e um centro cultural no sobrado da subida para o Morro da Conceição, bem ao lado da Pedra (monumento tombado desde os anos 80), e, além disso, já vai dando início a uma reforma em seu bar, o Bodega do Sal, o principal responsável pelo atual agito noturno da região. Gente como os sambistas Toninho Gerais e Marquinhos Diniz e celebridades como a atriz Taís Araújo têm aparecido por lá. Participam de rodas de samba, comem bem (Peterson é cozinheiro de mão-cheia, com passagem pelo navio de Eike Batista e por restaurantes da Zona Sul, como o Bistrô da Hípica e a Prima Bruschetteria) e, acima de tudo, curtem a bagagem histórica do lugar. Era ali que nos séculos XVIII e XIX os escravos escoavam alimentos trazidos pelos barcos. Por essa movimentação de povos africanos, a região também é considerada berço do samba de raiz no Rio.
Hoje os sons são outros, compondo um mix mais amplo. Peterson (o sobrenome é inventado, surgido quando ele fez um curso de teatro) organiza noitadas de jazz, pop rock, forró pé de serra e música black. “Aqui acontece de tudo. Até casamento já rolou”, diz ele, que nasceu em Belford Roxo, há 35 anos, passou três décadas morando numa casa perto da Pedra e hoje está no Méier. Não costuma fazer propaganda tradicional dos seus negócios, apostando no boca a boca e nas redes sociais. Não fuma e não bebe, destoando, assim, do perfil de quem vem lotando o pátio do lugar. Numa sexta-feira boa, com o tempo ajudando (é ao ar livre) e um trânsito não tão complicado (coisa rara atualmente nas imediações do porto), cerca de 1?000 boêmios ali se divertem. Entusiasmado com a reforma do bar ? será feita pelo arquiteto André Rodrigues, famoso por reestruturar botequins como Buxixo, na Tijuca, Bar das Quengas, no Centro, e Bossa Nossa, na Barra ?, Peterson não vai largar o osso tão cedo. “Já me ofereceram 1 milhão de reais para passar o ponto, mas não vendo nem por cinquenta vezes isso. Este pedaço do Rio tem um valor sentimental para mim, é a minha vida”, ele conclui.