Para muitos cariocas, o Papai Noel realmente existe — e, quando não está em serviço, distribuindo presentes no fim do ano, atende pelo nome de Antonio Ivo Daflon. A espessa barba branca que o empresário, de 64 anos, conserva desde 2007 ajuda na composição do personagem, mas é sua generosidade a razão pela qual costumam considerá-lo o Bom Velhinho: há quarenta anos ele comparece a asilos, orfanatos e hospitais para deixar mais alegre o Natal de quem precisa. Nascido em São Sebastião do Alto, uma pequena cidade no interior do Estado do Rio, Daflon é o caçula de onze irmãos, e, durante a infância, seu Natal era singelo. “Nós jantávamos juntos, mas não havia troca de presentes. Eu não tinha brinquedos”, lembra. Aos 8 anos, ele veio morar com uma irmã na capital, e só aos 12 desfrutou seu primeiro Natal na cidade. “Fiquei encantado com as luzes, a ceia e os presentes, que ganhei pela primeira vez na data”, conta. A partir daí, Daflon começou a se interessar por tudo o que remetia à festividade e, ainda na adolescência, a nutrir o sonho de incorporar o Papai Noel. A primeira vez que usou a fantasia foi aos 22 anos, na festa de fim de ano da empresa em que trabalhava. Dois anos depois, em 1975, deu início a um trabalho social ao visitar um pequeno orfanato que abrigava catorze crianças.
“O verdadeiro voluntário é aquele que dá sem receber nada em troca”
De lá para cá, recrutou os amigos em uma grande campanha, e hoje distribui mais de 12 000 presentes por ano em locais como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (na foto), o Instituto Nacional do Câncer e o Hemorio. As doações são armazenadas em uma casa alugada no bairro do Maracanã, que funciona como sede do Instituto Casa do Papai Noel, como foi batizada a iniciativa. “Todo o trabalho é mantido por voluntários. Não temos nenhum funcionário remunerado, tampouco cunho político ou religioso”, explica. As atividades, no entanto, não se restringem às festas natalinas. Criada em 1996, a ação Natal o Ano Todo presta assistência contínua a 120 famílias, com cestas básicas, consultas médicas e orientação profissional. Já o Projeto Dignidade reforma, desde 2003, a casa de pessoas que vivem em condições precárias de habitação. “Uma das coisas que me propiciam mais prazer na vida é ajudar os outros. O verdadeiro voluntário é aquele que dá sem receber nada em troca”, afirma Daflon. Esse é o real espírito natalino.