Efeito colateral do 7 a 1, vai saber. O Uber chegou ao Rio em 2014, às vésperas da Copa do Mundo, mas, no início, não provocou o alvoroço verificado em outras capitais. Pouco mais de um ano depois, no entanto, tornou-se o estopim de uma confusão de parar o trânsito, literalmente. No dia 24 de julho, protestos de taxistas contra a concorrência supostamente desleal fecharam importantes vias cariocas, como as pistas do Aterro e da Avenida Presidente Vargas. Em seguida, episódios esparsos de violência foram registrados — nos quais o alvo eram motoristas e usuários do aplicativo internacional de caronas remuneradas.Houve, também, discursos de representantes do poder público a favor dos amarelinhos. Na semana passada, o prefeito Eduardo Paes assinou um decreto que estabelece multa de 1 360 reais para quem for flagrado transportando passageiros sem licença oficial. Só faltou desenhar um carro preto no Diário Oficial. A medida vem sendo contestada por liminares, um sinal de que a batalha continua, porém tende a se desenrolar em condições civilizadas. Mas a boa-nova mesmo é a seguinte: vizinhos na tela do smartphone, aplicativos de táxi buscam aperfeiçoar seus serviços para enfrentar a concorrência. O passageiro agradece.
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Duas das maiores empresas do gênero no Brasil, Easy Taxi e 99Taxis, têm presença expressiva na cidade. A primeira, criada no Rio, congrega 70% da frota carioca, de total hoje estimado em 33 000 veículos (contra as atuais 1 000 unidades do Uber). Com marketing onipresente, a paulista 99Taxis ostenta cerca de 20 000 motoristas cadastrados. “Nosso objetivo sempre foi oferecer a melhor experiência aos usuários. Agora, estamos ainda mais focados em aprimorar nossa base de motoristas”, resume Dennis Wang, executivo da Easy Taxi. No negócio de Wang, o modelo Santana, sucesso no passado, está expressamente proibido. “Foi uma demanda dos usuários, que não querem circular em carros velhos”, justifica o CEO. Em relação ao serviço prestado, além de orientarem os motoristas a não cancelar corridas e fazer sempre o melhor trajeto, as companhias investem em práticas variadas para tornar a experiência, no mínimo, equivalente à oferecida pelo Uber (confira algumas promoções no quadro abaixo). Hoje, quem solicita uma corrida pelo aplicativo da 99Taxis pode escolher entre automóveis comuns, adaptados para cadeirantes ou modelos especiais. A última categoria engloba condutores com o chamado alvará de luxo, que trabalham de terno e utilizam veículos mais requintados — entre eles, um Mercedes que bate ponto em frente ao hotel Copacabana Palace. “Gostaríamos de ter mais prestadores cadastrados, mas o número de permissões liberadas pela prefeitura é pequeno”, explica Pedro Somma, gerente de operações da empresa.
Esse tratamento diferenciado, com evidente inspiração nos carros do Uber, também será implantado nos serviços prestados pelo Easy Taxi. O projeto, ainda sem data de lançamento, prevê corridas vips, pilotadas pelos taxistas mais bem avaliados pelos usuários. Reinaldo Guedes, há pouco mais de um ano na profissão, está entre os três profissionais mais elogiados pelos clientes do Easy Taxi. A bordo de seu Linea 2015/2016 tinindo de novo, ele sempre tem uma balinha de hortelã à mão para oferecer aos passageiros. “Clientes têm de ser bem tratados em qualquer tipo de serviço. Procuro ser educado, além de cuidar do meu carro como se fosse a minha esposa. E posso garantir que ela é muito feliz”, ressalta. Desvelo e profissionalismo asseguram a fidelidade de passageiros como Arnaldo Teixeira. O empresário já testou o Uber, mas continua recorrendo aos amarelinhos no dia a dia. Nas estatísticas dos programas, é considerado um heavy user. “Além de funcionarem como um órgão fiscalizador, já que podemos avaliar o serviço prestado, os aplicativos garantem segurança e agilidade na hora de pegar um táxi”, opina. Como se vê, há espaço para todos, principalmente para os que trabalharem direito.