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Brincando de ser aprendiz de cervejeiro

Cariocas se divertem ao fabricar versões caseiras e inusitadas da bebida à base de malte e lúpulo

Por Rafael Cavalieri e Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 12h53 - Publicado em 22 nov 2014, 00h00
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    Um desavisado que passe em frente ao número 663 da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, pode pensar que ali funciona uma loja voltada para as donas de casa. De fato, ali estão expostos panelões de vários tamanhos e os mais diversos tipos de cereal. O letreiro, porém, denuncia o público-alvo do lugar: a Malte & Cia é a principal fornecedora de matéria-prima e equipamentos para os cervejeiros amadores que se arriscam a preparar as próprias beberagens na cozinha de casa. Essa é uma turma que não para de crescer na cidade. Nos últimos dois anos, o número de inscritos na Associação de Cervejeiros Caseiros do Rio mais que dobrou, passando de 147 para 310. E muitos deles já chegam com uma enorme sede de inventar suas fórmulas. “Estamos sempre testando algo novo. Agora trabalho em uma mistura que leva abacaxi e gengibre para ver se dá certo”, diz Eduarda Simonsen, que começou a desenvolver a própria bebida em 2012 na fazenda da família. Além da matéria-prima básica, composta de água, malte, levedura e lúpulo, ela gosta de adicionar ingredientes que tira do pomar e da horta, de onde já saíram as jabuticabas, as laranjas, as tangerinas, o manjericão e o coentro usados em suas bebidas. O resultado surpreende e até atrai fãs. “Meus amigos já ficam em cima, só cobrando quando a próxima variedade estará pronta”, conta.

    Até chegar a hora de encher a própria garrafa, no entanto, é preciso muita dedicação dos cervejeiros amadores. O preparo de uma receita básica demora ao menos quinze dias. Já as mais elaboradas podem levar até dois meses. Com uma série de detalhes técnicos nesse processo, o caminho natural daqueles que se interessam pelo assunto é matricular-se em um curso. No Rio, os dois mais procurados são o da Confraria do Marquês e o do Bar do Botto, o atual bicampeão da categoria melhor chope em Comer & Beber, publicado por VEJA RIO. Ambos custam 420 reais, duram um dia inteiro e ensinam os três procedimentos básicos: a mistura, a fervura e a fermentação. Semanas depois, os alunos retornam para degustar o que prepararam. Mesmo com equipamento próprio e toda a teoria na cabeça, pôr a receita em prática na cozinha não é tão simples quanto parece. “O controle de todo o processo  é  muito importante”, diz o engenheiro Rafael Costa, que começou seus primeiros experimentos há três anos junto com um amigo. “Minha primeira cerveja não ficou legal. Fiquei com pena de jogar fora e acabei bebendo, mas estava longe de ser o que eu esperava”, conta.

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    Assim como a quantidade de produtores vem crescendo, o número de pontos de venda de cervejas artesanais na cidade também aumentou nos últimos dois anos, de 250 para 580. Com um detalhe importante: vários desses rótulos que estão à venda hoje em bares, lojas e supermercados começaram a ser produzidos exatamente assim, de forma amadora, como uma brincadeira entre amigos. Foi o que aconteceu com o carioca Bernardo Couto e dois amigos, responsáveis pela 2Cabeças. Em 2009, eles testaram sua primeira receita, na cozinha de casa. Três anos depois estavam tirando da geladeira a elogiada Hi-5 Black IPA. O lote inicial, com 1 000 litros, se esgotou em poucos dias. No ano seguinte, nascia o segundo experimento b-em–sucedido da marca, a MaracujIPA, com adição da fruta. A boa aceitação do mercado fez a dupla largar o emprego e fazer da cerveja um bom negócio. “Procuramos uma fábrica para aumentar a escala e já produzimos 6 000 litros por mês, vendidos em mais cinco estados”, conta Bernardo.

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    As oportunidades de crescimento para quem quer investir nesse setor seguem a todo o vapor. A versão carioca de uma das feiras de maior prestígio no mundo, o festival Mondial de la Bière, nascido em Montreal, no Canadá, exibe até domingo cerca de 650 rótulos, entre eles diversas marcas nacionais estreantes como Three Monkeys e Fraga, que dividem espaço com a própria 2Cabeças, a Noi e a Jeffrey, todos microprodutores do Rio. “É um mercado que está em plena expansão. O número de marcas cariocas no evento triplicou desde a última edição, em 2013”, diz Victor Montenegro, um dos organizadores. Prova de que beber pode ser muito mais do que uma diversão.

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