Uma área avaliada em pelo menos R$ 109 bilhões no Rio de Janeiro pode ser afetada até 2040 pela elevação do nível do mar. Esse é um dos principais destaques do capítulo de infraestrutura costeira do estudo “Brasil 2040”, divulgado no fim da semana passada pelo governo federal. O trabalho avalia os impactos, pelos próximos 25 anos, que os mais diversos setores da economia vão sofrer com as mudanças climáticas.
A avaliação dos riscos costeiros foi conduzida no Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) pela equipe do engenheiro civil Wilson Cabral. Mapeou-se a vulnerabilidade do Rio e de Santos (SP) a aumento do nível do mar, risco de ressaca, deslizamentos e inundações.
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Foram considerados dois cenários do IPCC (o painel da ONU de cientistas do clima): um mais pessimista, em que o mundo não age para combater as mudanças climáticas; e um intermediário, em que ações são tomadas, mas ainda não são suficientes para evitar aquecimento de cerca de 3°C até 2100. Nesses dois cenários, as cidades foram, então, divididas em áreas de muito baixa a muito alta vulnerabilidade.
No caso do Rio, os pesquisadores cruzaram o mapa de vulnerabilidade com o de valores imobiliários. “É ainda uma análise preliminar, qualitativa, mas que aponta que, no cenário mais brando, uma área de R$ 109 bilhões pode estar ameaçada nos próximos 25 anos. No pior cenário, o valor sobe para R$ 124 bilhões”, afirma Cabral. Ele se refere à orla na Zona Sul, que inclui bairros como Ipanema e Copacabana. “Em termos de vulnerabilidade, o risco nessas regiões é médio – há áreas no Rio muito mais vulneráveis, como a Ilha do Fundão e o Aeroporto Santos Dumont -, mas, como elas concentram os imóveis mais caros, o valor em risco passa a ser mais proeminente”, explica o pesquisador.
Hospitais alagados
Em Santos, a maior ameaça é justamente aos setores que precisam agir no caso de um evento climático extremo. “Mais de 60% do município está em área de alta vulnerabilidade, incluindo a chamada infraestrutura crítica”, afirma Cabral. “Com a elevação do nível do mar, se ocorrer um alagamento, observamos que todos os hospitais de Santos podem ficar alagados. E isso nos dois cenários.”
Os pesquisadores avaliaram também os riscos dos portos. A maioria já sofre com o aumento do nível do mar e passa por redução da borda livre – espaço seco entre o cais e a água – e redução do calado (profundidade) por assoreamento. O Porto de Santos, por exemplo, que foi projetado para ter uma borda livre de 1,18 m, fica com apenas 0,95 m em momentos de maré baixa. Isso pode cair para 0,72 m até 2040 no pior cenário.
Cabral defende que os governos precisam começar a inserir a variável das mudanças climáticas no planejamento das cidades e de infraestruturas estratégicas para o País, como os portos. “Em Santos, o código de habitações ainda permite construções insulares que são muito vulneráveis, como os estacionamentos em subsolo. Eles já sofrem com inundações e isso tende a ser exacerbado com a mudança climática. O zoneamento urbano e o plano de mobilidade têm de levar isso em conta”, diz.