Arpoador é tema de documentário que ressalta sua tradição democrática
Obra aborda a história de um dos trechos mais emblemáticos da orla carioca
Famoso pela concentração de surfistas, pelo espetacular pôr do sol, pelo agito no calçadão e, mais recentemente, pelos arrastões que têm acontecido por ali, o Arpoador é agora também tema de um documentário. Dirigida pelos cineastas Hamsa Wood e Helio Pitanga, a obra é um dos destaques da mostra Arquivo em Cartaz, que acontece entre 9 e 13 de novembro e contará com trabalhos nacionais e estrangeiros com pelos menos 30% de imagens coletadas em arquivos. Com o título de Arpoador — Praia e Democracia, a produção será exibida nos dias 12 e 13 no Cine Pátio, do Arquivo Nacional, e no Cine Teatro-BNDES, respectivamente.
Baseado em estudos do antropólogo Roberto DaMatta, o documentário retrata a importância desse pequeno trecho de 500 metros entre a Praia do Diabo e Ipanema na formação da cultura de praia do Rio, com seu caráter igualitário e democrático. “Não há muito que ostentar de sunga ou de biquíni. Aqui vale mais a personalidade das pessoas”, conta em sua última entrevista o ator Arduíno Colassanti, que morreu em fevereiro do ano passado, aos 78 anos. Frequentador do local desde os anos 50 e 60, ele foi um dos pioneiros a ganhar provas de surfe realizadas por ali. “Na ditadura, quando as pessoas sofriam com censura e repressão, aquele era um espaço para ver as ondas, as gatas e trocar ideias com a rapaziada”, reforça em seu depoimento Evandro Mesquita, fundador da banda Blitz, expoente do rock carioca nos anos 80 e participante de um dos momentos icônicos da praia, que foi a instalação do Circo Voador, no verão de 1982. O filme é pródigo em episódios que reforçam as origens da tradição liberal do lugar. Entre eles está, por exemplo, a estreia do biquíni nas areias brasileiras, em 1948, quando as duas peças foram apresentadas ao país pela alemã Miriam Etz exatamente naquele ponto da orla.