Os números são inequívocos: o mercado de flores, com o perdão do trocadilho, não para de florescer. De acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura, o setor avançou 10% no último ano e o faturamento em 2021 deve girar em torno de 200 milhões de reais só no Rio. A pandemia, sempre ela, contribuiu, uma vez que as pessoas foram em busca de mais verde em casa durante o isolamento. Mas houve mais: com a demanda em alta, brotou uma nova geração de profissionais que vêm dando cara nova aos arranjos, misturando espécies pouco conhecidas e usando de criatividade para compor arrumações cheias de bossa.
+ Para receber VEJA RIO em casa, clique aqui
Trabalham, inclusive, com um sistema de “assinatura floral”. “O estilo fica a gosto do freguês, que nos informa as preferências, onde pretende colocar as flores, e aí criamos algo personalizado”, explica Jô Toledo, à frente da La Fleur, que acaba de completar um ano com produção mensal de 120 arranjos a partir de 270 reais. Junto com a sócia Paula Maio, a empresária recorre à experiência de duas décadas no mercado da moda, inspirando-se nas últimas tendências internacionais para produzir buquês de colorido intenso, com muito rosa, roxo e verde — os mais procurados no ateliê da dupla.
Além do contraste de cores, a atual temporada florida acendeu o brilho de novas espécies que vêm sendo protagonistas nos arranjos. Saíram de cena antúrios, tulipas e a clássica chuva de prata, tão onipresentes nos buquês, para ceder lugar à imponente protea, tipo robusto comum na África e na Austrália, e a surpreendente flor de alho, de formato escultural (leia mais no quadro). Elas são disputadas no Cadeg, mercado municipal do Rio localizado em Benfica, na Zona Norte, onde os floristas batem ponto toda quinta, com o dia ainda escuro, atrás do carregamento enviado por cerca de 150 produtores da Região Serrana do Rio, de Holambra, em São Paulo, e de municípios no interior de Minas Gerais.
“Depois que os caminhões chegam, fica uma loucura. Dá para encontrar opções que mudam totalmente os arranjos que tínhamos imaginado”, conta Renata Lima, da também novata Botaniê, que nasceu e cresceu nos últimos meses. Ela começou o negócio de forma despretensiosa, no próprio apartamento, e os amigos fizeram o boca a boca. De repente, os pedidos dispararam e não deu mais para manter a produção em casa. Renata foi inclusive procurada pelo Copacabana Palace para abrir uma loja pop-up dentro do elegante hotel no último Dia dos Namorados, onde lançou delicadas embalagens em caixas redondas, e mantém a parceria com eles, atendendo os hóspedes.
Agora, a ex-publicitária comanda o próprio ateliê em Copacabana e ali produz arranjos para clientes do porte da italiana Gucci e garante que a procura só aumenta. “No Rio, tem muitas pessoas que trabalham bem com eventos, mas ainda poucas especializadas no setor floral, então vejo espaço para crescer”, avalia Cissa Geyer, da Astromélia. Inaugurada em 2019, a empresa, criada em parceria com a arquiteta Joana Bonelli, tinha o foco na decoração de festas. No ano passado, porém, a dupla aproveitou a suspensão dos eventos para rever o modelo e decidiu se especializar nas flores.
Depois de uma semana estrondosa de vendas no Dia das Mães, em 2020, elas logo partiram para a assinatura, que em pouco mais de um ano pulou de três clientes fixos para quarenta — o serviço com entrega semanal varia entre 649 e 979 reais por mês, dependendo do tamanho do arranjo, que vai do pequeno ao grande. “Mesmo sabendo que irá receber flores, o cliente sempre se surpreende, porque buscamos explorar espécies diferentes, de preferência, da estação, e a montagem nunca é igual”, explica Joana.
Levar em consideração a sazonalidade de cada planta é fator decisivo para a duração dos buquês, que seguem hoje uma linha mais desconstruída, rasgando a antiga cartilha do certo e errado. Também chamados de arranjo inglês, eles trazem mesclas de cores, texturas e formatos, seja com flores, folhagens, frutas, galhos, tudo em uma só arrumação. Tão movimentado mercado fez germinar uma leva de cursos pela cidade. Aberta desde 2018 na Tijuca, a Escola de Arte Floral do Rio contabiliza mais de 500 alunos.
O perfil dos estudantes varia, ainda que a maioria seja de mulheres: advogadas, médicas, aposentadas e jovens participam dos três módulos oferecidos pelo professor Mynssem Freitas. “Há quem esteja em busca de um hobby para equilibrar a rotina estressante e os que estão começando a vida profissional e veem aí uma oportunidade de carreira”, diz. Em aulas que duram dois dias inteiros, ele ensina a fazer buquê de noivas, decoração de eventos e arranjos para assinaturas (veja dicas no quadro). E assim a cada dia floresce uma novidade.