Quem foi Astrud Gilberto, ícone da Bossa Nova que morreu aos 83 anos
Cantora foi a voz que levou o gênero musical para o mundo, com sua versão em inglês para Garota de Ipanema, que conquistou crítica e público
Nome que levou a bossa nova ao mundo, a cantora Astrud Gilberto morreu nesta segunda (5) aos 83 anos. Sua voz encantou o planeta com The Girl From Ipanema, a versão em inglês para Garota de Ipanema, sua primeira gravação, que a alçou ao estrelato. A notícia foi dada no Instagram de Sofia Gilberto Oliveira, neta da artista. Astrud morreu em casa, na Filadélfia. O corpo será cremado nos Estados Unidos.
Filha de mãe brasileira e pai alemão, Astrud Evangelina Weinert nasceu em Salvador, em 29 de março de 1940. Aos sete anos, foi viver com a família no Rio de Janeiro, onde cresceu. Na adolescência, virou melhor amiga de Nara Leão (1942-1989), que a incentivou a seguir carreira como cantora. Ela apresentou Astrud para João Gilberto, e os dois se apaixonaram. Em 1959, eles se casaram, e ela adotou o sobrenome dele.
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Sua primeira apresentação foi no histórico show A Noite do Amor, do Sorriso e da Flor, no anfiteatro da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, na Praia Vermelha, no Rio, em 1960, ao lado de nomes como Nara Leão, Johnny Alf, Nana Caymmi e o próprio João Gilberto.
Mas foi com sua participação no álbum Getz/Gilberto (1964), com João Gilberto e o saxofonista Stan Getz, que sua carreira deslanchou. Ela estava com 22 anos quando gravou The Girl From Ipanema, o grande destaque do disco. Sucesso de público e crítica, o trabalho foi indicado para quatro Grammy e ganhou dois: Melhor Gravação, para The Girl From Ipanema, e Melhor Álbum.
A música do álbum tinha mais de cinco minutos, longa demais para as rádios tocarem na época. O produtor Creed Taylor cortou as partes cantadas em português por João Gilberto, e a faixa saltou para 3:55 minutos, tendo sido lançada como single. Em julho de 1964, a canção chegou ao quinto lugar da parada Billboard Hot 100 e vendeu mais de cinco milhões de cópias. Garota de Ipanema é a segunda canção mais ouvida no mundo, e muito disso se deve à versão da cantora.
Astrud ganhou apenas 120 dólares por cantar no disco (que ainda tem sua participação na faixa Corcovado), o valor de uma diária de gravação, e não teve seu nome incluído nos créditos da primeira edição. Ou seja, nada de royalties. João Gilberto recebeu 23 mil dólares. Getz levou a maior parte do dinheiro, estimado por alguns em quase um milhão de dólares. Para muitos, foi a voz dela a responsável pelo sucesso do álbum.
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Ela e João Gilberto, que moravam em Nova York, se separaram em 1964, meses depois da gravação do disco. Tudo começou a desandar durante uma turnê pela Europa, ainda em 1963. Embora a imprensa no Brasil a tenha culpado pelo fim do casamento, ela garantia que, na verdade, o estopim foi um caso de seu marido com a então estudante de história da arte Miúcha, irmã de Chico Buarque, que mais tarde se tornaria cantora e se casaria com João.
Aos 24, divorciada e mãe de um filho pequeno, João Marcelo, Astrud voltou aos Estados Unidos e passou integrar a banda de Getz. Surgiram rumores de que ela estaria tendo um caso com o saxofonista, o que ela sempre negou. Ela se casaria pela segunda vez, mas com Nicholas LaSorsa, com quem teve seu segundo filho, Gregory, e também se separaria dele.
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A popularidade da cantora a levou a ser convidada para aparecer em filmes: em 1964, ela participou de Get Yourself a College Girl (no Brasil traduzido como A Turma da Bossa Nova), de Sidney Miller, e de The Hanged Man, dirigido por Don Siegel, feito para a TV.
Ao longo de sua carreira, a cantora gravou com nomes do quilate de George Michael e Chet Baker. Além do álbum Stan Getz e Astrud Gilberto — Getz Au-Go-Go (1964), ela lançou dezoito discos solo. O tratamento recebido pela imprensa brasileira foi decisivo para que ela deixasse o país, que só voltaria a visitar como “anônima”: a última vez em que ela se apresentou no Brasil foi em 1965.
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Em 2002, ano em que foi admitida no Latin Music Hall of Fame, Astrud Gilberto anunciou que se afastaria dos palcos por tempo indefinido, depois de quarenta anos. Em 2016, ela declinou um convite para cantar Garota de Ipanema na abertura dos Jogos Olípicos no Rio. Foi Daniel Jobim, neto de Tom, que acabou interpretando a canção, no piano e na voz.
Depois de se aposentar, ela se dedicou à filosofia, à pintura e a lutar contra a crueldade com os animais. Sua importância na bossa nova em geral foi minimizada por anos, reflexo do machismo — os próprios João Gilberto e Stan Getz chegaram a dizer seu sucesso que havia sido “sorte”. Mas, como bem lembrou sua neta Sofia, ela foi a verdadeira garota que levou a bossa nova de Ipanema para o mundo.
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