Bares com cadeiras de praia são a nova onda da boemia carioca
Elas se espalham descontraidamente pelas calçadas da cidade, incorporadas ao mobiliário de estabelecimentos que despontam nesse cenário
Foi-se o tempo em que cadeiras de praia se restringiam às areias ou às calçadas de casas simples do subúrbio carioca, adornadas por flores tristes e baldias, como já cantava Chico Buarque na música Gente Humilde, de 1970. Pois neste verão a tradicional peça de alumínio e náilon anda em novas e boêmias freguesias, espalhadas por bares recém-inaugurados do Centro à Zona Sul. Um deles é o Dias Bar e Mar, que desde dezembro funciona no burburinho da Rua Dias Ferreira, no Leblon. A intenção dos sócios Jonas Aisengart e Rafaela Garritano, que escolheram um modelo listrado em amarelo e branco, era resgatar a bossa dos clubes de piscina típicos dos anos 1980, criando uma atmosfera descontraída em meio a redutos etílicos mais sóbrios. “As cadeiras praianas casaram perfeitamente com esse conceito e, como temos um pé-direito mais baixo, também foi uma opção adequada ao espaço”, conta Jonas, à frente ainda dos bem-sucedidos bares Quartinho, Pope e Chanchada.
Por mais que não sejam exatamente exemplo de conforto, as cadeiras de praia surgem como alternativa para muitos cariocas que querem evitar aquele indesejável tempo de espera por uma mesa. É só levar a sua, sentar e pedir uma cervejinha na calçada do bar mais próximo. Assim o descontraído mobiliário foi parar no Labuta, na Lapa, do premiado chef Lucio Vieira. Certo dia, ele avistou um casal dispondo seus assentos no meio-fio, gostou da ideia e passou a oferecer o acessório praiano a quem chega. “O bar tem só 18 metros quadrados, então ocupar a calçada acabou sendo um movimento natural. É bonito demais ver a Avenida Gomes Freire cheia de cores num sábado à tarde”, celebra Vieira, que se prepara para reabrir na Glória o Labuta Mar, antes localizado em Copacabana. E as cadeirinhas seguirão a trilha. “Toda vez que visito a obra fico imaginando a calçada coalhada de cadeiras de praia na rua. Virou nossa marca registrada”, diz.
Por ser uma cidade de elevadas temperaturas, o Rio estabeleceu desde seus primórdios um cotidiano de se viver intensamente a rua. “Antes, não existia ar-condicionado e, depois, o preço da conta de luz se tornou impraticável. O jeito era ir atrás da brisa fresca do lado de fora”, explica o professor e escritor Luiz Antonio Simas, autor do livro O Corpo Encantado das Ruas. Embalado por esse histórico espírito, o produtor cultural Gustavo Santos inaugurou em outubro passado, em parceria com dois sócios, o Mureta da Lapa, onde grafites ao ar livre reproduzem a paisagem litorânea. Ali, cadeiras de alumínio forradas com náilon colorido se estendem pelo meio-fio e mesas cederam lugar a caixotes de madeira para apoiar os biricuticos. Tem feito sucesso — além de dobrar o número de assentos disponíveis, a atmosfera de descontração ganhará um chuveirão e uma mangueira para apaziguar o calor. “Inventamos uma praia em plena Lapa, com esse clima que tem tudo a ver com a cidade, atraindo cariocas de todos os cantos”, pontua Santos.
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Não muito longe dali, próximo à Zona Portuária, a Tendinha.Co, uma espécie de espaço colaborativo, também aderiu ao singelo adereço. A empreitada mais jovem do agitador cultural Raphael Vidal, também responsável pela Casa Porto e pelo Bafo da Prainha, presta homenagem aos diminutos comércios do subúrbio, que por vezes funcionam através de uma janela ou em uma garagem, oferecendo produtos de primeiríssima necessidade, de pilhas a pipas, e artigos de moda e artesanato, sem abrir mão da cerveja gelada. A ideia de Raphael era justamente transformar os clientes em vizinhos que se reúnem a céu aberto para papear — resgate de um antigo hábito numa cidade hoje dominada por prédios e condomínios fechados. Nessa toada, os assentos espalhados pelo Beco João Inácio, que funciona como um grande salão de bar a céu aberto, não podiam ser de outro modelo. “O suburbano aprende que essa cadeira é de calçada muito antes de descobrir que ela é de praia”, lembra Vidal. E, assim, elas vão dando um toque extra de informalidade à cidade, que se notabiliza pela descontração.
PUXA A CADEIRA (DE PRAIA) E APROVEITE
Dos sandubas aos frutos do mar, as especialidades dos cardápios
> Tendinha.Co
Beco João Inácio, 4, Largo de São Francisco da Prainha
O menu da “irmã mais nova” do Bafo da Prainha passeia da pizza de sardinha a camisas com estampas descoladas. Por lá também é possível garimpar objetos de decoração que preservam a memória da região portuária do Rio
> Mureta da Lapa
Rua da Lapa, 200, Centro
A missão da empreitada é celebrar a cultura de boteco do subúrbio, com direito a chuveirão e banho de mangueira. Da parrilla fumegante saem tábuas de churrasco e suculentos recheios de sanduíches, servidos defronte à mureta grafitada com paisagens da cidade
> Labuta
Avenida Gomes Freire, 256, Lapa
Xodó do premiado chef Lucio Vieira, a birosca é uma joia no Centro do Rio, oferecendo desde café da manhã até PFs simples e cheios de sabor e pitorescos petiscos de balcão, a exemplo da porção de jiló e do caldo de mocotó
> Dias Bar e Mar
Rua Dias Ferreira, 410, Leblon
A nova aposta de Jonas Aisengart resgata o charme frugal dos clubes de piscina da década de 80, combinando drinques refrescantes a um inventivo cardápio de frutos do mar. Tem até uma nova versão daquele clássico coquetel de camarão ao molho rosé
> Push Burger
Rua Tubira, 8, Leblon
A dark kitchen do chef Pedro Siqueira, localizada no imóvel que abrigou a saudosa cervejaria Jeffrey, abriu as portas ao público servindo sanduíches caprichados, como cachorro-quente e hambúrgueres de primeira