A esquadrilha da fumaça
Estabelecimentos apostam em novidades para atrair os jovens amantes de charuto
Sigmund Freud era adepto convicto. Winston Churchill e Alfred Hitchcock também não dispensavam os seus. Apesar de a imagem dos charutos estar ligada de forma inequívoca ao prestígio e ao poder, o hábito de fumá-los sempre foi visto como passatempo de gente mais velha. Recentes aparições do astro do futebol inglês David Beckham e das divas pop Shakira e Rihanna em meio a baforadas comprovam, entretanto, que tal conceito é bem mais flexível do que se imaginava. O fenômeno pode ser constatado também no Rio, onde é crescente o número de jovens que aderem à turma da fumaça. Fechado por quase 100 dias, o sisudo Esch Café, no Leblon, tradicional reduto de charuteiros cariocas, reabriu renovado, repleto de atrações para os fumadores mais moços. A decoração foi modernizada e a fumaça onipresente sumiu depois que foi instalado um novo sistema de exaustão do ar. “O estilo enclausurado da casa estava fora de moda. Tudo foi pensado com o intuito de atrair esse novo público”, afirma Edgar Esch, dono do lugar. Na mesma linha, uma das unidades da Barra da Tijuca da rede Candice Cigar Co. ganhou mesa de sinuca, carta de cervejas importadas e cardápio com pratos da culinária japonesa ? isso tudo em um lugar já conhecido pelas apresentações de bandas de rock ao vivo. O resultado das mudanças pode ser conferido no perfil da clientela. Atualmente, cerca de 40% dos frequentadores têm menos de 35 anos ? três anos atrás, essa faixa etária representava apenas 10%. “É um público exigente e que não tem medo de gastar”, diz a empresária Candice Marocco, sócia da rede.
Em média, um charuto cubano pode custar até 230 reais e costuma ser acompanhado por bebidas fortes como conhaque e uísque. “Além de relaxante, há essa ideia de ser um hábito exclusivo de homens poderosos. É como se você fosse um deles”, compara o publicitário Leonardo Secundo, 28 anos. Assim como acontece com os amantes do vinho mais endinheirados, a nova geração de aficionados costuma investir pesado no hábito. O advogado Cristiano Rodrigues, 37 anos, foi a Cuba em suas últimas férias e trouxe de lá cinquenta puros, além de umidificadores e cortadores. “Fumar charuto para mim é uma forma de prolongar um bom papo nas noitadas sem os efeitos negativos do álcool em excesso ou do cigarro convencional”, diz ele. E as opções de bares para fumadores devem aumentar: na próxima semana abre no Méier o bar Castro, que promete dar um toque da legítima boemia carioca a esse ritual aristocrático.