A cerimônia é rápida, não chega a meia hora. O frei acolhe os presentes, lê o evangelho e em seguida caminha entre os bancos aspergindo água benta. Ao fim, oferece a todos os pãezinhos benzidos, símbolo de prosperidade para os católicos. As missas são sempre às 13h30 e às 14h, hora do almoço no Centro, quando muitos fiéis aproveitam a oportunidade para exercitar a fé e renovar as energias, numa espécie de bênção expressa oferecida todas às terças no Convento de Santo Antônio. Ali, não é difícil ver homens engravatados e moças de salto alto com o crachá no pescoço, concentrados em seus pedidos. Tem de tudo: causas impossíveis, saúde para familiares e, especialmente em tempos de crise, a manutenção no emprego. Dada a fama do santo português, o casamento também está sempre em alta. A celebração atual ganha um caráter ainda mais pitoresco devido ao bom humor do celebrante, o frei Nazareno José Lüdtke, 49 anos, catarinense de São Bonifácio e descendente de alemães. “As pessoas querem ser acolhidas. Precisam de uma palavra de afeto e vem buscar aqui um momento de paz”, afirma o religioso que há seis anos se mudou para o Rio.
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Para receber as graças de Santo Antônio, os frequentadores levam objetos ligados a seus pedidos que são submetidos o banho de água benta. Há de tudo: chaves de casa, objetos religiosos e até as fotos de parentes e amigos na tela do celular. “Se o telefone não ligar depois, não venham reclamar com o Frei Nazareno”, brinca o religioso, referindo-se a si mesmo em terceira pessoa. Toda terça-feira são distribuídos 3 000 pãezinhos, doados por um benfeitor da região, além de serem gastos aproximadamente dez litros de água benta. Quanto mais assíduo o fiel, mais água recebe. “As pessoas gostam de ser molhadas, reclamam se só cai nelas um respingo”, diz o frei. Ao fim das cerimônias há sempre quem peça uma bênção especial ou vá agradecer a uma graça atendida, muitas vezes fazendo doações em dinheiro ao convento. Aos mais desesperados e mais próximos, o frei oferece até seu número de celular. E mesmo que o pedido venha por telefone, ele também garante que reza por quem o chama.
A tradição de Santo Antônio para os brasileiros é uma herança da colonização portuguesa. O frei franciscano, nascido Portugal no século XII, é padroeiro de Lisboa, e ganhou fama através dos séculos por sua capacidade de promover casamentos. No território lusitano, ele é mais popular que São Francisco de Assis, que deu origem à ordem religiosa conhecida pelas vestes marrom, a caridade e os votos de pobreza. Sua festa, em 13 de junho, é bastante comemorada no Brasil e dá início à temporada de festas juninas. Parte dessa tradição move a assistente Alana Rauber, 34 anos. Em sua família o hábito de frequentar o Convento de Santo Antônio deu sorte a sua mãe. Foi lá que, há 37 anos, o pai dela fez o pedido de casamento. “Eu venho aqui toda terça e peço para conseguir um marido. Espero ter sorte depois de tanta água que tomei”, explica a moradora do Leblon. Já o agente de viagem João Vicente Campos, 48 anos, visita o lugar para meditar e fugir do estresse do trabalho, mesmo que apenas no intervalo do almoço. “Saio daqui me sentindo mais leve e confiante para encarar as dificuldades”, garante.
O Convento de Santo Antônio é um dos marcos religiosos mais antigos na cidade. A pedra fundamental foi lançada em 1608 e, desde então, a construção foi palco de importantes momentos, como a ordenação de São Frei Galvão em 1762 e as frequentes visitas do imperador dom Pedro I, que discutia ali as conjecturas da independência. Ainda hoje, o local guarda, no mausoléu imperial, os despojos de membros da família real. Atualmente o prédio passa por um conturbado processo de restauro. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938, está em obras desde 2007. O projeto que era orçado em 38 milhões de reais tornou-se um imbróglio entre os religiosos e a empresa gestora da obra. Enquanto os problemas não se resolvem, os treze frades, com idades entre 38 e 85 anos, mantém a pacata vida franciscana. No caso do frei Nazareno isso inclui caminhadas regulares, a paisana, de bermudas e camiseta, pelo Parque do Flamengo. “Ando por esta cidade linda, dou bom dia às pessoa. Tenho uma vida feliz”, afirma. Pelo religioso, as bênçãos também podem ser distribuídas nas ruas, e por toda a cidade.