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Benção reúne fiéis na hora do almoço em santuário no Centro da cidade

Cerimônia religiosa do Convento de Santo Antônio atrai os funcionários dos escritórios dos arredores em busca de graças

Por Pedro Moraes
Atualizado em 2 jun 2017, 12h18 - Publicado em 25 dez 2015, 00h00
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  • A cerimônia é rápida, não chega a meia hora. O frei acolhe os presentes, lê o evangelho e em seguida caminha entre os bancos aspergindo água benta. Ao fim, oferece a todos os pãezinhos benzidos, símbolo de prosperidade para os católicos. As missas são sempre às 13h30 e às 14h, hora do almoço no Centro, quando muitos fiéis aproveitam a oportunidade para exercitar a fé e renovar as energias, numa espécie de bênção expressa oferecida todas às terças no Convento de Santo Antônio. Ali, não é difícil ver homens engravatados e moças de salto alto com o crachá no pescoço, concentrados em seus pedidos. Tem de tudo: causas impossíveis, saúde para familiares e, especialmente em tempos de crise, a manutenção no emprego. Dada a fama do santo português, o casamento também está sempre em alta. A celebração atual ganha um caráter ainda mais pitoresco devido ao bom humor do celebrante, o frei Nazareno José Lüdtke, 49 anos, catarinense de São Bonifácio e descendente de alemães. “As pessoas querem ser acolhidas. Precisam de uma palavra de afeto e vem buscar aqui um momento de paz”, afirma o religioso que há seis anos se mudou para o Rio.

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    Para receber as graças de Santo Antônio, os frequentadores levam objetos ligados a seus pedidos que são submetidos o banho de água benta. Há de tudo: chaves de casa, objetos religiosos e até as fotos de parentes e amigos na tela do celular. “Se o telefone não ligar depois, não venham reclamar com o Frei Nazareno”, brinca o religioso, referindo-se a si mesmo em terceira pessoa. Toda terça-feira são distribuídos 3 000 pãezinhos, doados por um benfeitor da região, além de serem gastos aproximadamente dez litros de água benta. Quanto mais assíduo o fiel, mais água recebe. “As pessoas gostam de ser molhadas, reclamam se só cai nelas um respingo”, diz o frei. Ao fim das cerimônias há sempre quem peça uma bênção especial ou vá agradecer a uma graça atendida, muitas vezes fazendo doações em dinheiro ao convento. Aos mais desesperados e mais próximos, o frei oferece até seu número de celular. E mesmo que o pedido venha por telefone, ele também garante que reza por quem o chama.

    Alana Rauber
    Alana Rauber ()
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    A tradição de Santo Antônio para os brasileiros é uma herança da colonização portuguesa. O frei franciscano, nascido Portugal no século XII, é padroeiro de Lisboa, e ganhou fama através dos séculos por sua capacidade de promover casamentos. No território lusitano, ele é mais popular que São Francisco de Assis, que deu origem à ordem religiosa conhecida pelas vestes marrom, a caridade e os votos de pobreza. Sua festa, em 13 de junho, é bastante comemorada no Brasil e dá início à temporada de festas juninas. Parte dessa tradição move a assistente Alana Rauber, 34 anos. Em sua família o hábito de frequentar o Convento de Santo Antônio deu sorte a sua mãe. Foi lá que, há 37 anos, o pai dela fez o pedido de casamento. “Eu venho aqui toda terça e peço para conseguir um marido. Espero ter sorte depois de tanta água que tomei”, explica a moradora do Leblon. Já o agente de viagem João Vicente Campos, 48 anos, visita o lugar para meditar e fugir do estresse do trabalho, mesmo que apenas no intervalo do almoço. “Saio daqui me sentindo mais leve e confiante para encarar as dificuldades”, garante.

    João Vicente Campos
    João Vicente Campos ()

    O Convento de Santo Antônio é um dos marcos religiosos mais antigos na cidade. A pedra fundamental foi lançada em 1608 e, desde então, a construção foi palco de importantes momentos, como a ordenação de São Frei Galvão em 1762 e as frequentes visitas do imperador dom Pedro I, que discutia ali as conjecturas da independência. Ainda hoje, o local guarda, no mausoléu imperial, os despojos de membros da família real. Atualmente o prédio passa por um conturbado processo de restauro. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938, está em obras desde 2007. O projeto que era orçado em 38 milhões de reais tornou-se um imbróglio entre os religiosos e a empresa gestora da obra. Enquanto os problemas não se resolvem, os treze frades, com idades entre 38 e 85 anos, mantém a pacata vida franciscana. No caso do frei Nazareno isso inclui caminhadas regulares, a paisana, de bermudas e camiseta, pelo Parque do Flamengo. “Ando por esta cidade linda, dou bom dia às pessoa. Tenho uma vida feliz”, afirma. Pelo religioso, as bênçãos também podem ser distribuídas nas ruas, e por toda a cidade.

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