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“Temos um caminho ainda muito longo e que vai ser de luta”

Após participar do ato liderado por movimentos negros no domingo (1) no Rio, Yan Cantuaria dá seu depoimento sobre o desafio da população contra o racismo

Por Bruna Motta
Atualizado em 14 jan 2021, 11h06 - Publicado em 2 jun 2020, 13h40
Manifestação: ao redor do mundo, manifestante foram as ruas contra a violência policial a população negra (Laís Dantas/Divulgação)
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A onda de manifestações contra a violência policial ao povo negro, que começou nos Estados Unidos, após a morte do americano George Floyd, chegou ao Brasil. No último domingo (1), Yan Cantuaria, 27 anos, participou do ato de protesto “Vidas Negras Importam”, que aconteceu na Zona Sul do Rio. Em depoimento a VEJA Rio, ele contou detalhes sobre a manifestação, que acabou com confusão e bombas:

“Fiquei sabendo do ato através de um grupo para jovens negros que participo e também pelas mídias sociais. Acabei tomando a decisão de participar do ato no domingo (01), mesmo bastante preocupado por conta pandemia, mas era necessária a minha participação, como a dos meus amigos. Chegamos por volta das três e quinze da tarde em frente ao Palácio Guanabara.

As lideranças do movimento negro já estavam orquestrando o manifesto, pessoas estavam mobilizadas repetindo palavras de ordem como “Povo preto unido, povo preto forte”. Tudo estava girando em torno das questões raciais. Em um determinado momento, foi decidido andar da rua Paissandu até a rua Marques de Abrantes.

O tempo todo pediam para a gente respeitar as ordens de distanciamento, usar máscaras. Quando chegamos na encruzilhada entre as ruas, tivemos a orientação de nos dispersar. Ali encerraria a manifestação que durou cerca de uma hora, com a presença da polícia a todo instante, mas sem nenhum embate.

Decidimos retornar pelo Palácio a fim de seguir até Botafogo. Já começamos a ouvir palavras de manifestantes contra o governador Wilson Witzel e o presidente Jair Bolsonaro. Nesta hora, os policiais jogaram uma bomba de efeito moral que acabou soltando estilhaços e ferindo um dos meus amigos.

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Também não demorou para começar a serem atiradas balas de borracha. Enquanto isso, outro amigo estava fazendo uma live da manifestação, quando um policial militar passou por nós e fez um gesto como se fosse nos degolar. Ficamos muito assustados, fomos o mais rápido possível para casa. Porque se corrêssemos, iam achar que tínhamos feito algo errado.

Nossa estrutura é tão desprivilegiada que precisamos, infelizmente, nos expor ao vírus para evitar que mais pessoas negras morram vítimas de violência. Fui ao ato, desconfortável por conta da pandemia, e voltei ainda mais desconfortável, e também com raiva, desânimo.

Por que os policiais estavam de fuzil numa manifestação pacífica? Era para ser uma manifestação contra a violência a população negra e terminou com violência contra a população negra. O que podemos esperar dos amigos brancos é que também saiam desse conforto, não achem que rede social é suficiente.

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O cordão de proteção de pessoas brancas num manifesto é importante para que assim o enfrentamento com a polícia seja outro. Temos um caminho ainda muito longo e que vai ser de luta.”

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