Polêmicas não faltaram nos 19 meses em que Wilson Witzel esteve à frente do governo do estado. Eleito com o discurso “linha-dura” na área de segurança pública, o ex-juiz começou a exibir um vasto repertório de gafes, declarações e atitudes controversas antes mesmo de tomar posse. Afastado do cargo nesta sexta (28) devido a suspeitas de fraude na área da Saúde durante a pandemia do coronavírus, Witzel manteve o hábito de polemizar, algumas vezes involuntariamente, durante todo o tempo em que esteve no poder. Relembre alguns casos:
“Mira a cabecinha”: Dois meses antes de tomar posse, Witzel afirmou: policiais que matassem bandidos portando fuzis não deveriam ser responsabilizados pela morte “em hipótese alguma”. Disse ainda que a autorização para o “abate” seria oficializada, sem que isso aumentasse a letalidade no estado. “O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo!”.
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“Mesmo patamar”: Num evento público em 2019, o governador afirmou que o Rio “é a segunda capital mais segura do Brasil”, e foi além: “Se olharmos para o resto do mundo, estamos no mesmo patamar de Nova York, de Paris e de Madri”. Horas depois, explicou que sua declaração se referia apenas às áreas turísticas. “Leblon, Copacabana, Ipanema, Botafogo, Flamengo. Se você pegar o mapa da rua, não tem homicídio. Onde está o homicídio no Rio de Janeiro? Infelizmente está nas comunidades onde estão o tráfico e a milícia. Turista vem pra cá e não para cima do morro. Ele vai ver os equipamentos turísticos do Rio”.
Esnobada de Gabigol:
Flamenguista declarado, Witzel foi a Lima, no Peru, acompanhar a final da Copa Libertadores entre o rubro-negro e o River Plate, da Argentina. O time carioca sagrou-se campeão e enquanto os jogadores aguardavam a premiação, o governador aproximou-se de Gabigol e se ajoelhou à sua frente, na intenção de que o atacante colocasse o pé sobre o seu joelho, para que ele “lustrasse a chuteira” do artilheiro, repetindo uma comemoração clássica do futebol. Mas Gabigol, ao vê-lo, passou direto. Deixou o governador no vácuo.
“Nunca fui mas sei que é ruim”: Ao responder a uma pergunta sobre o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), Witzel falou especificamente sobre a maior favela da cidade (e do país). “Passei perto da Rocinha, nunca subi. Mas a gente não precisa subir para saber que lá realmente é ruim”.
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“Precisamos ter a nossa Guantánamo”: Na cerimônia de posse do secretário de Polícia Civil, Marcus Vinicius Braga, em 2019, o governador falou sobre o crime organizado no Rio, e citou a prisão militar dos Estados Unidos na ilha de Guantánamo, em Cuba – um lugar com longo histórico de tortura aos presos. “Os que estão de fuzil na mão nas comunidades são terroristas, e devem ser tratados como tal. A lei antiterrorismo pode dar penas de 50 anos, em estabelecimentos prisionais destacados, longe da civilização. Precisamos ter a nossa Guantánamo”.
Comemoração na Ponte Rio-Niterói:
Acabei de dar entrevista, parabenizando a atuação exemplar da PM. O ideal era que todos saíssem vivos da operação, mas preferimos salvar os reféns. Determinei que a Secretária de Vitimização cuide dos reféns e também da família do sequestrador.
— Wilson Witzel (@wilsonwitzel) August 20, 2019
A morte do bandido que sequestrou um ônibus e estava prestes a se entregar mereceu efusiva comemoração do governador, em 2019. Witzel chegou de helicóptero à Ponte Rio-Niterói, local do crime, e festejou com socos no ar e o punho cerrado a execução do criminoso, que agiu sozinho e portava uma arma de brinquedo. Os 37 reféns foram libertados sem ferimentos.
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No helicóptero com o atirador: Witzel sobrevoou uma comunidade em Angra dos Reis, no sul fluminense, e gravou vídeo no helicóptero da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), ao lado de um policial que apontava o fuzil para baixo, numa ação “para dar fim à bandidagem”, segundo suas próprias palavras. Uma das rajadas, no entanto, perfurou uma barraca improvisada. Era um ponto de apoio para peregrinação de evangélicos, confundido com uma casamata do tráfico. Por sorte, estava vazia.
“Aí o risco é deles”. No dia 13 de março, no início da quarentena, Witzel anunciou que os jogos da rodada final do Campeonato Carioca aconteceriam com os portões fechados. O governador justificou sua decisão da seguinte maneira: “(Os jogos) vão ser com os portões fechados para não ter aglomeração. O contato será entre os jogadores, aí o risco é deles”. O zagueiro Leandro Castán, do Vasco, usou sua conta no Twitter para protestar: “O risco é nosso. Grande resposta, grande governador, obrigado pelo respeito com os atletas!”.