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Carioca na Cracolândia paulistana inspira gesto de solidariedade

Ao repercutir na internet, a notícia inspira gesto de solidariedade e chama atenção para um problema de dimensão nacional

Por Pedro Tinoco
Atualizado em 3 jun 2017, 00h00 - Publicado em 3 jun 2017, 00h00
Carlos Eduardo de Albuquerque Maranhão: morto em clínica na serra fluminense (Facebook/Reprodução)
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“Bombar na internet” é expressão quase sempre associada a banalidades. O termo designa assuntos que brotam nas redes sociais e, replicados, se espalham por toda parte. Inspiram debates intensos, mas logo desaparecem — ou dão lugar a outra novidade instantânea. Na última semana, “bombou” um caso muito sério, nada banal. Causou comoção a notícia da presença deUm carioca no inferno da Cracolândia” (título da reportagem que, publicada no site de VEJA RIO na terça 30, alcançou 120 000 pessoas no Facebook em pouco mais de doze horas). O personagem da matéria foi um dos homens e mulheres escorraçados na polêmica operação arrasa-quarteirão promovida pelo poder público contra a tristemente famosa Cracolândia paulistana. Articulado, deu um depoimento em vídeo ao grupo A Craco Resiste, de apoio a dependentes químicos locais, e foi reconhecido: trata-se de Carlos Eduar­do de Albuquerque Maranhão, 46 anos, apelidado na juventude de “Sarda” e “Jesus”. Ex-aluno do colégio particular Santo Inácio, ele deixou boas lembranças entre os colegas de turma, tanto que logo foi mobilizada uma corrente nas redes sociais com planos para a sua recuperação. A tarefa não é fácil. Maranhão tem problemas com drogas há quase trinta anos e já passou por várias internações. Criado com conforto em um casarão no alto do Jardim Botânico, conta até hoje com o apoio da família. Recebe ajuda financeira e, duas vezes por semana, dá notícias à mãe por telefone. Como em todo “assunto do momento”, sua aparição on-li­ne provocou reações passionais e contraditórias. Baixada a poeira do imediatismo típico cultivado nas redes, o instante de “fama” de Maranhão pode provocar desdobramentos benéficos. Primeiro, atrai as atenções para um problemão social e de saúde pública de dimensão nacional — estudo da Fiocruz, feito em 2013, estimou em 370 000 pessoas a população de usuários de crack nas 26 capitais e no Distrito Federal. No Rio, a tragédia está à vista de todos, em pontos diversos, das franjas das favelas ao Aterro do Flamengo e à Avenida Brasil. Na Maré, uma colônia viceja desde 2012 na Rua Flávia Farnese. Resta ainda a esperança de que os antigos amigos do Sarda, alcançados pela internet, consigam mesmo recu­perá-lo. E, para quem acha que não tem nada a ver com isso, fica o recado de uma sobrinha de Maranhão, escrito no Facebook: “Sim, amigo, ele era um cara como você”.

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