Nas academias da Zona Sul e da Barra, o muay thai faz sucesso entre a garotada que busca manter o corpo sarado e, de quebra, aprender noções de defesa pessoal. Mas numa sala de 60 metros quadrados na favela Parque da Cidade, na Gávea, a luta se tornou um meio para afastar crianças e jovens da influência do crime. Ali, o técnico da seleção brasileira da modalidade, Artur Mariano, montou uma unidade de sua franquia, a Champions Factory, para 150 alunos. A única diferença entre esse e os outros centros de treinamento da rede é que lá as aulas são gratuitas para os moradores. Só é preciso seguir uma regra: não se envolver com o tráfico de drogas nem com outro tipo de atividade criminosa. “Funciona bem porque as crianças já têm muitos exemplos, ídolos mesmo, que vieram dali. É um caminho viável para elas”, diz Mariano. O treinador refere-se principalmente a Victor Santos, que, depois de iniciar carreira no projeto, se sagrou campeão mundial no ano passado, em Bangcoc, na Tailândia.
“O projeto funciona porque as crianças têm ídolos que saíram dali. É um caminho viável para elas”
Desde que encerrou a carreira como lutador, há pouco mais de uma década, Mariano teve a preocupação de ajudar quem vive nas áreas mais pobres da cidade. Eu recolhia dinheiro, brinquedos e mantimentos entre funcionários e alunos da Champions Factory e os distribuía em favelas, onde também organizava demonstrações do esporte. Mas sabia que não estava resolvendo um problema, apenas remediando. Há seis anos, a líder comunitária Andreia Martins propôs a criação de uma academia para os moradores do Parque da Cidade. Antes que ela mudasse de ideia, Mariano recolheu luvas, capacetes, sacos de areia e tatames em suas academias, raspou as economias e equipou a sala cedida na ONG Parque Vivo. No início, ele chegava às 7 horas para dar as primeiras aulas, trabalhava o resto do dia em suas outras unidades e voltava para o turno da noite. Essa realidade mudou em 2012, quando o Ministério do Esporte apoiou o projeto. O patrocínio, porém, acabou no ano seguinte, sem explicação, e a rotina de sacrifício voltou. “Os alunos e ex-alunos abraçaram a iniciativa, e isso me deixa tranquilo em relação à continuidade do projeto”, diz Mariano.