Quando foi lançado, em 2002, Cidade de Deus conquistou a crítica e recebeu quatro indicações ao Oscar, um símbolo inequívoco de sua qualidade cinematográfica. Passados mais de dez anos, a produção dirigida por Fernando Meirelles no bairro homônimo da Zona Oeste continua a render frutos ainda que indiretamente longe das telas e dos olhos do grande público. Foi depois da conclusão do longa-metragem que Luis Carlos Nascimento, de 33 anos, um dos muitos membros do elenco formado por atores e não atores, criou a Escola Audiovisual Cinema Nosso. Nascida como uma espécie de curso avançado para os colegas que não foram absorvidos pelo mercado após o fim das filmagens, o centro de formação dirigiu seu foco à profissionalização de jovens carentes. Desde a fundação, mais de 2 000 alunos com idade entre 16 e 23 anos bateram claquetes por lá. Muitos dos atendidos gratuitamente pelo projeto conseguem bolsas em faculdades particulares, como a PUC-Rio, ou em instituições internacionais. ?Começamos de forma despretensiosa, com reuniões nos fins de semana. Hoje, oferecemos aulas de até quatro horas por dia. Nossos alunos são reconhecidos por grandes nomes da indústria por sua extrema eficiência e competência?, afirma.
?Começamos de forma despretensiosa, nos fins de semana. Hoje, nossos alunos são reconhecidos por sua eficiência e competência?
Instalado atualmente em um casarão na Lapa, o Cinema Nosso se diferencia por aliar à parte técnica conhecimentos teóricos sobre construção narrativa e por não abrir mão de métodos menos comerciais, como a filmagem em película. A abordagem didática segue uma linha pedagógica inspirada no educador Paulo Freire, em que a experiência do aluno é uma etapa crucial do processo de aprendizado. Crescido em Inhaúma e oriundo de uma família humilde, Nascimento trabalhou como office-boy, vendedor de plano de saúde e auxiliar em lojas para bancar o sonho de estudar cinema. Com sua escola, ele espera facilitar o acesso de um público menos favorecido a uma área de negócios em ascensão no país. Para isso, montou uma estrutura de financiamento baseada em oficinas e palestras pagas dirigidas a profissionais de classes sociais mais abastadas. ?É inegável o aumento da autoestima nos jovens que estudam aqui quando descobrem que podem contar histórias com os próprios meios?, diz.