O casamento foi uma experiência traumática para a artista visual Panmela Castro. Passados os primeiros meses, a relação se degenerou em agressões cometidas pelo marido, de quem se separou depois de ter sido mantida em cárcere privado por ele. Na ocasião, ela foi à polícia denunciá-lo, mas a Lei Maria da Penha ainda não existia e nada foi feito. Por quatro anos, Panmela conviveu com a frustração da impunidade de seu agressor até que, em 2008, fundou a Rede Nami, projeto que se vale da arte urbana para promover os direitos das mulheres. “Criei o programa porque queria que outras vítimas não demorassem tanto tempo para se manifestar. Deixei de ser uma jovem alienada, que não tinha noção de seus direitos, e me transformei em uma mulher consciente e ativista de uma causa”, resume.
“Muitas mulheres ainda costumam se sentir culpadas quando sofrem abusos. Queremos mudar isso“
Graduada pela UFRJ em pintura e mestre em artes pela Uerj, Panmela, de 32 anos, encontrou nos grafites o estilo ideal para desenvolver suas criações. No princípio assinava suas intervenções com o pseudônimo Anarkia Boladona. Com o tempo, passou a pintar pelos muros da cidade figuras femininas que ora representam liberdade e transformação, ora atentam para a ignorância sobre os direitos da mulher ? são recorrentes em seu trabalho as figuras femininas de olhos vendados pelos cabelos ou usando máscaras. Os trabalhos, já assinados com seu próprio nome, chamaram a atenção da organização Vital Voices, fundada pela então primeira-dama Hillary Clinton, nos Estados Unidos, e da Diller Von Furstenberg Family Foundation, da estilista Diane Von Furstenberg. Ambas premiaram a iniciativa. Hoje, murais pelos direitos das mulheres desenvolvidos por Panmela também podem ser vistos em cidades como Nova York, Paris, Istambul, Tel-Aviv, Toronto e Johanesburgo, além de pontos estratégicos do Rio, como a Leopoldina, o Centro e o Arpoador. Em paralelo, Panmela lidera projetos sociais de capacitação de grafiteiras e oficinas pelo fim da violência doméstica. “Muitas mulheres ainda costumam se sentir culpadas quando sofrem abusos ou são vítimas de maus-tratos. Queremos mudar essa realidade”, afirma.