Não é apenas a ausência do jaleco branco que diferencia Rosa Celia Pimentel Barbosa da maioria de seus colegas médicos. Com aparência frágil, a cardiologista com especialização em pediatria empreende uma cruzada em que desafio profissional se confunde com dedicação pessoal. Depois de comandar por dezessete anos o Pro Criança Cardíaca, instituto carioca voltado para o tratamento gratuito dos pequenos portadores de problemas do coração, Rosa Celia está prestes a ver sair do papel seu projeto mais ambicioso: o Hospital Pro Criança. São mais de 7 000 metros quadrados com o que há de mais moderno na medicina pediátrica, uma iniciativa financiada por doações como a do empresário Eike Batista, que bancou quase metade dos 63 milhões de reais necessários à obra. O centro médico está praticamente pronto e, assim que começar a operar, oferecerá 72 leitos e três salas cirúrgicas. No entanto, ainda faltam 18 milhões de reais para finalizar o projeto. “Tudo o que conseguimos é fruto da caridade de pessoas que almejam o bem. Acho que já foi um milagre chegarmos até aqui, e não vai demorar para conseguirmos finalmente abrir as portas”, diz, otimista.
“Tudo o que conseguimos é fruto da caridade de pessoas que almejam o bem”
A vocação da médica remonta à infância. Educada em um colégio interno em Botafogo, onde viveu dos 7 aos 18 anos, ela desenvolveu ainda menina o gosto por cuidar dos mais novos. Formada em 1970 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, cursou especializações em Londres, Houston e Boston, destacando-se em uma área até então pouco desenvolvida na medicina brasileira. Rosa Célia foi a responsável pela implantação da área de pediatria do Hospital da Lagoa e cuidou da mesma especialidade no Pró-Cardíaco, ocupações que dividiu com atendimento em seu consultório particular. A intensa rotina profissional não a impediu de se dedicar aos pacientes sem recursos — não foram poucas as ocasiões em que organizou eventos para financiar as complexas cirurgias que custam até 70 000 reais. Além da reconhecida capacidade de arrecadar recursos, outro número ajuda a dimensionar seu esforço: os 20 000 pacientes já atendidos gratuitamente pelo Pro Criança Cardíaca. “Não adianta esperar. Aqui temos de ir à guerra, e ela acontece todos os dias”, resume.